Mulheres Imigrantes

#75 - Coletividade com Ray Florentino

February 03, 2024 Mulheres Imigrantes Season 4 Episode 75
Mulheres Imigrantes
#75 - Coletividade com Ray Florentino
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Show Notes Transcript

No episódio de hoje, a entrevistada é Ray Florentino @ramayanaflorentino_, natural de São Paulo/capital, atualmente imigrante em Gdańsk/Polônia. Mãe de duas crianças, Ray contou que decidiu sair do Brasil por não se sentir segura no país e por querer exercer a maternidade de uma forma mais completa. 

Ela falou para o Podcast dos casos de racismo que são recorrentes na Europa, e como procura estar sempre ativa em meio à comunidade Brasileira.

A coordenadora de moda, atua também como Influenciadora nas redes sociais, mostrando looks fabulosos, trazendo informações sobre a Polônia e mostrando o seu cotidiano e família. 

Uma conversa sobre consciência de comunidade, e como nós podemos criar pontes para que outras pessoas possam atravessar a jornada da imigração de forma mais leve. 

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus

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Lupa Cultural:

#220/se acolher para depois se libertar, com Vanessa Pérola, episódio de Bom dia, Obvious - @obvious.cc

Black Skin, livro Dija Ayodele - @dija_ayodele

Mulheres Viajantes, Rebecca Aletheia - @rebeccaletheia

Vidas Passadas, filme na AppleTV - @pastlivesmovie

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Este podcast é uma produção independente, realizado e idealizado por Barbara dos Santos

804.326
mulheresimigrantes
Olá, mulheres imigrantes! Eu sou Barbara dos Santos, paulistana da Zona Leste, imigrante em Gold Coast, Austrália há 17 anos. A convidada desse episódio é natural de São Paulo/capital, apaixonada por música, arte e história, coordenadora de moda por profissão e influenciadora nas horas vagas, Ray Florentino. Seja muito bem-vinda e, por favor, se apresente melhor as nossas ouvintes. Quem é a Ray na fila do karaoke?

828.285
Ramayana
Ai, meu Deus, eu amo um karaoke? Ai, vamos lá, é tão difícil falar da gente, né? Mas, enfim, eu sou uma mulher de 41 anos, muito divertida, eu acho que a maioria das pessoas que acabam convivendo um pouco comigo, acabam conhecendo um pouco desse meu lado. Eu moro há sete anos na Polônia com a minha família, sete não, vai fazer oito já esse ano, meu Deus, tempo voou.

858.666
Ramayana
e a gente mudou primeiramente para Varsóvia, depois a gente veio para Gdansk. Eu amo a Polônia, amo Gdansk, acho que é um dos lugares mais bonitos do mundo, então eu escolhi morar aqui e trabalho com moda, sou coordenadora de moda, adoro viajar, amo viajar, amo pessoas, amo conexões, acho que é o que me move.

887.295
mulheresimigrantes
E o que foi que te levou então a sair do Brasil?

890.845
Ramayana
Nossa, acho que eu sempre tive essa vontade de ter essa experiência. Eu comecei a trabalhar muito nova e comecei a trabalhar no meio da moda e a moda foi me abrindo oportunidades. Eu fui trabalhar numa grande multinacional, então comecei a viajar o Brasil inteiro e ali eu falei, nossa, que bacana, tem um mundo para eu poder explorar.

916.806
Ramayana
Enfim, a vida foi caminhando para vários lugares, eu reencontrei meu marido, porque o Franklin e eu somos amigos a vida inteira, as nossas famílias são amigas, nossos pais, e é uma outra, dá um podcast, a nossa história, na realidade não é um podcast, dá um filme.

929.053
mulheresimigrantes
Caramba! Dá um livro!

935.282
Ramayana
Dá um livro, dá um livro, porque é muito engraçado. Mas, enfim, a gente sempre teve esse sonho de morar fora, de tentar, realmente, a gente ter essa experiência aqui. Pensávamos em voltar. Na época, a gente já falava sobre ter filhos, mas não era nada muito definido. Eu sabia que eu queria ser mãe, foi uma grande decisão na minha vida. Acho que tenho a raiz de antes e depois, mas...

961.51
Ramayana
Eu fui muito assertiva, tive muita dificuldade em aceitar a maternidade e, de alguma maneira, acho que isso me moveu também quando eu me vi em São Paulo em alguns lugares que eu já não me sentia pertencente. Eu achava uma cidade muito violenta, muito desigual, aquilo mexia muito comigo.

982.602
Ramayana
Eu lembro que voltando de um trabalho, eu sofri uma tentativa de assalto, e naquele dia eu decidi, eu falei  "não, chega, para mim deu, eu não aguento mais morar aqui". Passou, né? Eu vou ficar aqui fazendo o que? Até quando? Então, quando a gente decidiu morar fora, o que a gente buscava era uma melhor qualidade de vida e segurança, no momento, para mim, para o Franklin, para a minha família, para as crianças. A gente tomou essa decisão em família, ela era uma bebê, ela fala.

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Ramayana
Mas ela veio pra cá bem pequenininha e a gente é muito feliz aqui hoje, né?

1015.845
mulheresimigrantes
E como foi escolher, então, o lugar, país e cidade que vocês iriam?

1021.579
Ramayana
Eu falo sempre que não foi a gente que escolheu a Polônia, foi a Polônia que nos escolheu. Porque até então a gente sempre pensava em migrar para os Estados Unidos. Por ter família, o irmão do Franklin mora lá, então a gente já tinha essa percepção. E o Franklin foi desligado da empresa, ele tinha um amigo, esse amigo falou para ele, não, realmente a gente precisa te encaixar em algum lugar porque

1049.36
Ramayana
não tem cabimento, você trabalhou tantos anos aqui na empresa, a gente vai te realocar. E aí a gente veio para Varsovia com um plano inicial de um ano, um ano e pouquinho, e quando a gente estava aqui, o começo foi assustador, os primeiros três meses foram de adaptação,

1067.585
Ramayana
E aí eu falei, nossa, é realmente um lugar encantador, eu adorei, amei. Então, assim, o primeiro motivo foi porque o Franklin recebeu essa proposta de trabalho, a gente agarrou para ter essa experiência internacional, até porque eu pensava, nossa, é perto dos países nórdicos que eu queria conhecer. Eu falava tanto, eu nunca fui. Fui para outros lugares.

1090.077
mulheresimigrantes
Ainda há tempo, ainda há tempo, ainda há vida. Ai, gente!

1092.022
Ramayana
Sim, o Franklin vai, sempre, mas sempre acontece alguma coisa pra eu não ir, sempre, sempre, sempre, sempre. Sério, sério, agora em janeiro a gente ia pra Dinamarca e deu errado de novo, mas tudo bem. Mas quando a gente fez essa

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Ramayana
esse plano de migrar para cá, foi uma decisão em conjunta, mas ao mesmo tempo eu sabia que eu precisava tirar um ano sabático. Eu trabalhava muito, principalmente quando o Franklin foi demitido, eu falei, meu Deus, eu preciso arregaçar as minhas mãos porque eu tinha uma empresa de eventos, então eu não podia dar não para nada, eu dizia sim a tudo,

1135.913
Ramayana
meus clientes sempre aqui. Eu queria atender da melhor maneira possível na época. Eu trabalhava com clientes de moda e também de eventos, então estava sempre aberta a tudo. E aquilo estava me causando uma estafa absurda, além daquela vida maluca que você tem em São Paulo. Então, quando eu cheguei aqui, vi que havia um...

1156.817
Ramayana
uma tranquilidade nas pessoas, foi muito estranho, sabe? Eu falei, meu Deus, as pessoas vivem assim? Isso é normal? Me causava um pouco de estranheza. Enfim, é isso.

1169.65
mulheresimigrantes
Ainda mais porque a gente está acostumado a operar num nível assim, 150% todo o tempo, né? Tipo, ah! Aí você vai pra um lugar que você acha, nossa, gente, até meio entediante, né? Essa coisa pacata. Não, gente, é só uma velocidade de vida normal.

1194.004
Ramayana
É exatamente isso, uma velocidade de vida normal. O desacelerar para mim foi uma coisa muito impactante, porque eu não tinha essa percepção, eu achava que eu era normal, e hoje em dia eu tenho certeza que não.

1210.179
Ramayana
Mas eu sempre fui muito realizadora, para mim e para os outros também. E isso é uma coisa maravilhosa, mas a gente tem que ter medidas. E eu acho que vir para cá foi o que eu comecei a pensar sobre isso e também me reconhecer. Porque quando você está nesse modo, trabalho, casa, você não consegue enxergar o todo. Eu acho que foi uma das melhores decisões que a gente tomou, vir para cá.

1240.316
mulheresimigrantes
E aí voltando um pouco no passado, dentro do mundo na Moda lá nos anos 90, aquela famosa, terra de ninguém.

1249.701
mulheresimigrantes
Uma época que era raríssimo modelos negros, principalmente no Brasil. Era aquela coisa, tinha uma aqui, outra ali, aquelas ícones de referência, mas não fazia parte do mais um. Era apenas mais uma, assim como tantas outras. Como foi essa experiência para você? E tem alguma coisa que você traz daquela época com você de ensinamento para a sua vida que você tem até hoje?

1276.732
Ramayana
Muitas coisas. Eu acho que naquela época...

1281.476
Ramayana
a minha experiência maior, eu chegando nos lugares e não tinha reconhecimento, não conseguia me enxergar em alguém. Então, era muito normal ir no casting acreditando que eu não ia pegar aquele trabalho. E quando eu pegava, era uma coisa tipo, meu Deus, me deram uma oportunidade, então eu tenho que fazer muito bem feito, porque isso não vai acontecer de novo. Eu sempre agarrava as oportunidades com muita...

1308.968
Ramayana
com muita esperança, com muita fé que aquele trabalho ia me render e que eu iria pegar outros na sequência. E isso foi me trazendo conexões com pessoas maravilhosas. E o que eu sentia naquela época, eu lembro que minha referência era a minha amiga Patti de Jesus, eu lembro que o primeiro trabalho que eu fiz com a Patrícia, é uma modelo atriz muito famosa no Brasil, e eu fiquei anestesiada, eu falei, gente, eu consegui chegar até aqui, sabe, aquele lugar

1337.944
Ramayana
que eu sempre idealizei. E a importância que naquela época eu comecei a entender que a nossa representatividade tinha no meio da moda, no meio da música, no meio da arte. Eu falei, meu Deus, eu preciso falar isso para as pessoas. Mas, de alguma maneira, você não tem abertura.

1357.671
Ramayana
Você não consegue falar isso para as pessoas, então você acaba sendo um pouco conivente com aquela situação. Então as piadas que acontecem por trás das câmeras, as piadas que falam sobre você, sobre o seu cabelo, e eu vim de uma família multirracial, que era birracial.

1377.193
Ramayana
minha mãe branca e meu pai negro. Então, eu escutava essas piadas na minha casa também, na década de 80, de 90. Foi uma desconstrução quando até eu comecei a entender e ver o lugar que eu estava ocupando dentro da sociedade, dentro de tudo isso. I'm sorry.

1397.056
mulheresimigrantes
Ah, gente, vocês já sabem como que é. O Felipe vai fazer o melhor que ele puder na edição. Mas nós somos um podcast que gravamos em casa e vocês vão participar da nossa vida de casa e vai ter cachorro latindo, vai ter caminhão do lixo passando, helicóptero, não sei o quê. Então é isso, gente. Aham.

1417.193
Ramayana
Real life, eu falo muito isso sempre no Instagram, é sobre a realidade, não adianta a gente se mascarar porque uma hora a vida real vem à tona, mas enfim, acho que ela vai ficar mais quietinha, desculpa. Eu estava falando sobre a importância da moda para mim e ali eu comecei a enxergar que eu tinha novas oportunidades, eu não precisava ficar só ali.

1429.701
mulheresimigrantes
Tudo bem.

1439.002
Ramayana
Então, começaram a aparecer os eventos, eu comecei a enxergar as possibilidades de trabalhar com produção, de trabalhar em agência. Eu falei, nossa, é um mundo novo se abrindo para mim. E eu sempre olhei isso e falei, meu, se um dia eu tiver oportunidade, eu vou contratar meninas também. Meu casting vai ser um casting diversificado. E eu olhava para aquilo, eu sempre falava para os meus clientes, gente, a gente fala

1464.514
Ramayana
sobre diversidade, a gente fala sobre inclusão, mas isso não existe na vida real. Então eu lembro que eu comecei essa...

1473.831
Ramayana
Ah, esse movimento, sabe? Realmente da gente se enxergar, de se sentir representado, de falar dentro das empresas. E aí eu lembro que alguns clientes começaram a se abrir realmente para isso. Fala, nossa, realmente, por que a gente não tem uma mulher negra? Por que a gente não tem uma amistiça? Por que a gente não tem um menino com dread? E aí as empresas começaram a se abrir para as oportunidades, né?

1499.616
mulheresimigrantes
E aí você falando que veio de uma família de mãe branca e pai negro e muitas das nossas convidadas nessa temporada, elas contam quando elas se reconheceram como mulheres negras ou quando

1515.35
Ramayana
Eu ouvi.

1518.882
mulheresimigrantes
As apontaram, né, como mulheres negras, principalmente aquelas como você, que não tem a pele retinta. Algumas vezes aconteceu na escola, ou dentro da própria família, né, igual você já citou aí com as piadinhas. Ah, gente, é só uma piada, né, tio do pavê. Como que aconteceu isso pra você? Foi mais fora de casa, dentro, uma combinação? Ou como que você, propriamente dita, se reconheceu?

1547.108
Ramayana
Eu cresci no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Então, era um bairro onde tinha os descendentes italianos e muitos negros. Naquela época, na década de 80, 80 e pouquinhos, que eu era criança e brincava na rua, eu sempre olhei para a diferença. Eu vi a diferença. Mas, naquela situação, como criança, a gente não olha muito para isso, mas eu sempre soube que eu era uma criança negra.

1576.886
Ramayana
Porque quando minha mãe chegava em qualquer lugar, eu lembro que eu tinha cinco anos, e as pessoas falavam, mas ela é sua mãe? Você é adotada? Aí eu falava, não, meu pai é preto, igual ao Carvão. Ai gente, desculpa, mas era o que eu falava quando eu era criança.

1593.899
mulheresimigrantes
É, gente, vamos aí colocar um recorte. Criança, 5 anos de idade. Não, mas...

1597.159
Ramayana
pela criança, cinco anos de idade, anos 80, pelo amor de Deus. Eu era uma criança, meu Deus. Eu falo, depois eu fico, meu Deus, vou ser cancelada, é louca. Não, mas não é, mas a verdade, porque quando você é criança, você não tem esse eletramento racial, você não sabe o que as pessoas

1619.019
Ramayana
vão entender daquilo que você está falando e você não tem autonomia disso, mas eu sempre tive essa visão. Porque eu me olhava no espelho e eu me reconhecia como uma criança negra. Mesmo não tendo a pele retinta, eu via o meu fenótipo diferente das minhas amigas loiras, que eram descendentes italianos, e eu via que elas tinham esse orgulho. E eu falava, eu falava, meu cabelo é bonito, eu sou bonita, eu falava isso.

1645.367
mulheresimigrantes
Caramba, desde novinha porque isso é muito raro. Ah não, mas você não é.

1648.916
Ramayana
E na minha casa eu não tinha essa experiência. Eu não tinha irmãos, minha mãe me criou solo. Eu falava essas coisas e as pessoas ficavam um pouco desconcertadas. Eu comecei a entender que se eu falasse primeiro, elas não tinham direito de falar para mim.

1668.473
Ramayana
Ou me perguntaram as coisas. Não, mas você não é tão negra assim, mas a sua mãe é isso, mas o seu pai é aquilo. Eu falava não, eu sou a Ramayana, eu sou assim. E, fim. Então eu acho que esse lugar de também ter essa... Todo mundo falava, até hoje falam, eu tenho medo de você.

1693.695
Ramayana
porque você fala, e eu falo, eu acho que a gente tem que falar as verdades, né? Quando eu vim aqui pra Europa, eu lembro que o grupo...

1703.592
Ramayana
que me recebeu a princípio, eu vim de um lugar da sociedade onde eu estava meio que protegida. Eu não tinha contato com muitas pessoas fora do meu círculo social. Então, o bairro que você mora te protege, o lugar onde você vai sair, o restaurante que você frequenta, as pessoas que você conhece ao longo da sua vida, elas vão te dando oportunidades aonde você começa a ter uma facilidade de circular por esses lugares. Então,

1733.456
Ramayana
Eu estava bem ali no meu grupo, na minha vida em São Paulo. Quando você sai de um lugar e vai para outro e você tenta entrar num grupo, por exemplo, de brasileiras na Europa ou na Polônia ou em qualquer outro lugar, há muito preconceito e racismo e as pessoas não falam sobre isso. Sim, pergunte para as mulheres pretas se isso não é verdade.

1756.852
mulheresimigrantes
Gente, eu tô impactada aí. Entre as próprias brasileiras, não de europeus para com as brasileiras. Tudo.

1765.637
Ramayana
A gente normalmente aponta, brasileiro principalmente, gosta de apontar o dedo para o outro. É a primeira coisa que você vai ver. Qualquer comunidade que você entrar, em qualquer lugar do mundo, eles vão falar do país, eles vão reclamar, eles vão falar milhares de coisas. Mas a gente não olha para a nossa comunidade, a gente não fala, a gente não conversa com a nossa comunidade. Então, por ter uma comunidade muito pequena aqui,

1790.93
Ramayana
Quando eu cheguei, eu tinha que pertencer àquilo ali, né? E eu sou uma mulher grande, eu sou uma mulher alta, eu falo alto, dou risada, né? E tudo isso aqui chama a atenção. Então eu não era uma pessoa que iria para uma caixinha pré-concebida, pré-colocada e tal. E aí vem as perguntas, o que você faz, de onde você veio e tal, e aí você começa a... eu percebi os olhares de estranheza.

1813.763
Ramayana
Até então, para mim, estava tranquilo. Mas, depois de um certo tempo, eu comecei a ver o que acontecia aqui. Era a mesma coisa que acontecia no meu bairro quando eu era criança. Mas, você fazia o que mesmo? Você morava onde? Todos os lugares que eu passava, os grupos que eu ia conhecendo, eu tinha que fazer uma pré-entrevista. Era quase uma entrevista de emprego, sabe? A pessoa chegava,

1840.111
mulheresimigrantes
É o vestibular. Vamos ver se você vai passar.

1842.261
Ramayana
Vamos ver se você vai passar aqui, vamos ver quem é ela. O que ela faz? Por que ela é desse jeito? E como ela veio pra cá? E aí eu comecei a entender, eu falei, gente, não, eu não preciso ficar me explicando. Só que ao mesmo tempo, a gente quer pertencer. Você não quer ser isolada, você não quer ficar isolada, ainda mais porque eu tinha as crianças numa fase que eu achei que eles poderiam ter conexões com crianças aqui e tal.

1868.359
Ramayana
E Pasme, a Lara, por exemplo, quando a gente mudou de cidade e veio pra cá, ela estudou com uma criança brasileira, um menino que é pardo, negro, na minha concepção, a família não se enxerga assim e ele foi racista com a Lara, ele usou termos racistas com a Lara.

1885.708
Ramayana
Então, eu fiquei muito impactada. Eu não imaginava que isso acontecia e eu só fui entender tudo isso depois que eu conheci uma brasileira negra que mora na Itália. E ela me falou, ela falou, amiga, não, isso não é um comportamento legal. Então, esse insight que eu tive, eu falei, nossa, mas eu nunca tinha pensado nessa possibilidade, porque as pessoas saem do Brasil e os preconceitos...

1911.886
Ramayana
todas as estruturas raciais que elas carregam, o racismo estrutural, todas essas questões, elas trazem na mala, não fica lá, elas não vão deixar de pensar do jeito que elas pensam. Então, eu imaginei na minha cabeça que eu ia ter um acolhimento, que as coisas iam acontecer de uma maneira leve, tranquila,

1932.927
Ramayana
E não foi nada disso. A minha experiência não foi das melhores. Claro que eu tive pessoas maravilhosas brasileiras, claro que existe pessoas incríveis que fazem parte do nosso convívio aqui, brasileiros até.

1945.674
Ramayana
minha vizinha mesmo, mas é muito difícil a gente enxergar isso também, porque é do mesmo jeito que no nosso país a gente não enxerga as estruturas e as formas que querem nos colocar, aqui fora acontece da mesma maneira. A gente acaba se submetendo ou se colocando em algumas situações não agradáveis, justamente por isso, porque você fala, nossa, será que é isso mesmo? Porque o racismo sempre vem mascarado, né?

1973.251
Ramayana
é só uma coisinha, só uma piadinha, não era bem assim que a gente queria dizer, mas o tempo sempre mostra.

1980.879
mulheresimigrantes
Ai, você me entendeu errado. Não foi isso que eu quis dizer.

1985.284
Ramayana
Exatamente, essas frases são as mais utilizadas ou então, aí deixa eu perguntar pra você, você sofre racismo aqui, né? Aí eu falo, olha, eu já sofria no Brasil, racismo a gente sofre o tempo todo, né? O meu corpo não é feito pra pretencer, e aí você começa a falar, aí a pessoa, aí eu também sofri racismo, eu falo, amor, você não sofre o racismo, você é branca, é preconceito. Não! É! Exatamente, aí quando você

2008.643
mulheresimigrantes
Xenofobia é outra coisa, é outra categoria. Você pode ter sentido mais ou menos o que é ser, receber um preconceito por ser quem você é e de onde você é. Mas racismo não é, amiga.

2025.503
Ramayana
Exato. E aí, quando você fala sobre isso, é como se você fosse a inimiga da nação brasileira, fora. Porque as pessoas não são... Não. Não, você não sabe o que você está falando. Então, assim, eu passei por situações de ter que ficar me explicando e tentando, sabe, fazer com que a pessoa entenda. Mas não tem como entender. Porque quando você explica, a pessoa realmente olha para a situação, ela fala, eu não quero entender, ela não vai entender nunca.

2055.74
Ramayana
Teve uma situação também dentro de um grupo de WhatsApp, de uma pessoa que eu já tinha encontrado, e eu falei, nossa, eu entrei num grupo, aconteceu uma situação extremamente indelicada, a pessoa foi muito grossa comigo, e sempre aquele joguinho, não foi bem assim que ele quis dizer.

2075.333
Ramayana
E eu falei, não, pra mim hoje em dia eu como mulher preta, uma mãe, gente, eu me enxergo assim, não queira falar que não, porque sempre vem, você não é tão negra assim, se você alisasse o seu cabelo.

2087.602
mulheresimigrantes
É elogio, né? É elogio.

2089.315
Ramayana
Exatamente, e a pessoa quer, principalmente aqui, no Brasil eu não passo mais esse tipo de situação, no Brasil é uma outra situação, mas aqui a pessoa quer te dizer que você está errada o tempo todo e que você não tem que falar sobre isso, porque dentro da comunidade isso não acontece.

2107.26
Ramayana
Dentro da sociedade a gente ajuda. Eu falei, gente, não existe ajuda. Eu ajudo vocês, porque vocês acham que eu tenho obrigação. Até porque a gente vem do lugar de... É verdade! Amor, eu já escutei no telefone assim, eu tenho o passaporte europeu, você tem que me ajudar. Eu falei, peraí, calma, vamos lá. Eu vou ajudar qualquer pessoa.

2129.889
Ramayana
eu não vou ajudar você porque você tem um aporte europeu, sabe? E aí a pessoa falou assim, não, você não vai me ajudar? Eu falei, não, amor, você não tá entendendo, volta a frase, olha o que você me disse. Ah, tá, detalhe, foi a mesma pessoa que eu participei dessa situação, enfim, num grupo, ela foi extremamente agressiva, grossa, mal-educada, eu fiquei assim, sabe, de cara, eu falei, gente, como é que uma mulher tá falando tudo isso pra mim?

2134.735
mulheresimigrantes
Ah, não.

2153.712
Ramayana
Eu sempre sou uma pessoa muito aberta, falo que a gente tem que se ajudar aqui, sempre participo dos eventos que tem, tento trazer todo mundo para perto, pessoas que eu realmente acredito.

2170.128
Ramayana
que sejam boas para o nosso convívio, em sociedade, porque infelizmente a gente chegou em algumas situações que a gente não tem como conviver com todo mundo. A gente tem que manter a sanidade mental. Vamos lá, esse é o primeiro passo. E eu vi as agressões, eu bati boca no grupo, porque eu não vou levar desaforo para casa, e assim, eu vi todo mundo parado.

2195.759
Ramayana
o silêncio, as pessoas, ninguém foi falar nada. E aí quando ela foi mais agressiva, que ela foi mais racista e dona do privilégio todo, porque existe um pacto da branquitude que a gente não fala no dia a dia. A gente sempre tenta deixar isso meio que subentendido, mas é verdade, as pessoas que são brancas, principalmente aqui na Europa, elas se ajudam sempre.

2219.087
Ramayana
Quando você vê a comunidade negra, são poucos grupos que têm essa união. Eu participo de alguns, mas já tive amigos que moraram aqui na Polônia e já foram embora para outros lugares por não se sentir acolhidos, por não ter esse acolhimento. Vi perguntar para mim, nossa, aconteceu isso com você também dentro da comunidade? Aconteceu. A exclusão, não vou chamar fulano porque eu não gosto, mas por que você não gosta do fulano?

2248.746
Ramayana
Não gosto. E aí não tem uma explicação. Não sei, ah, não gosto do fulano. E aí eu falo, não, eu acho que a gente tem que falar sobre isso também. Então acho que quando parte para essas questões aqui na Europa é uma situação bem delicada. E não é só aqui na Polônia, é em toda a Europa.

2251.578
mulheresimigrantes
Não sei.

2271.015
mulheresimigrantes
E como foi a decisão, afinal, vocês tinham dois filhos, essa decisão da família imigrar, porque uma coisa é você ser uma pessoa sozinha, solteira, ou um casal sem filhos, outra coisa, você ter duas cria e uma delas que não pode falar por ela mesma, já que era tão novinha. Como foi, você falou que foi uma decisão em família. Qual foi a participação?

2286.323
Ramayana
É.

2300.043
Ramayana
A gente sempre, o Luca tinha sete anos quando a gente decidiu começar a aplicar, até então o Franklin estava vendo outras oportunidades, eu também estava procurando algumas opções aqui e a gente sabia que a gente iria mudar, a gente conversou claramente com ele falando, olha, a gente acha que a gente vai ter uma vida melhor, a mamãe vai poder passar mais tempo com você, isso pra mim

2300.179
mulheresimigrantes
Do mais velho, né? Então...

2323.712
Ramayana
era fundamental, porque eu queria exercer a maternidade. Eu gosto de ser mãe, gosto de cuidar das pessoas, eu sou assim. E isso me fazia mal, porque eu não conseguia acompanhar na escola, eu queria buscar, sabe, preparar um almoço, preparar um jantar, sentar para comer em família, era uma coisa que a gente não conseguia fazer com uma certa frequência. E aí eu falei isso para ele, foi muito engraçado, porque ele perguntou, tem castelo? Eu falei, tem. Ele falou, então, tem história? Eu falei, tem. Ele falou, então eu vou.

2351.613
mulheresimigrantes
Ai, meu Deus, criança é demais, né?

2354.889
Ramayana
Vou, eu vou, eu vou. Ai, que maravilha. Então, foi muito de acordo. Claro que o início aqui foi bem complicado porque até então o Luca só falava um pouquinho de inglês porque ele já estudava.

2369.768
Ramayana
Eu ficava meio apreensiva, eu não acreditava que ele ia conseguir falar tão bem. Hoje em dia os dois são fluentes em polonês, estudam em escolas polonesas. Eu falo que às vezes aqui em casa a gente não tem um idioma definido, a gente refaz o nosso idioma, porque a gente vai misturando.

2386.305
Ramayana
palavras, é até engraçado, mas a chegada da decisão final foi pensando neles, então eu falo muito isso para eles o tempo todo, somos 100% brasileiros, porque às vezes querem dizer também que a gente não é, ah não, mas vocês estão tanto tempo aqui, eu falo não, a gente é 100% brasileiro, não tem nem como negar.

2409.753
Ramayana
Mas tenho muito respeito e carinho por esse acolhimento dos nossos amigos, da nossa comunidade. Eu faço parte ativamente aqui do meu bairro, gosto muito disso. E eu acho que foi uma das melhores decisões que a gente pôde proporcionar para as crianças nessa fase. Porque eles chegaram aqui numa fase onde eles tiveram a oportunidade de crescer. A Lara, o primeiro idioma que ela aprendeu a ler e escrever foi polonês.

2438.541
Ramayana
e hoje em dia os dois falam português, a gente preserva todas as nossas tradições e culturas e só agregamos a cultura polonesa aqui também.

2448.456
mulheresimigrantes
E no seu Instagram, você escreve e também fala polonês. Como é que foi para uma mulher formada aprender uma língua que tem até um alfabeto, letras, completamente diferente? Uhum.

2462.961
Ramayana
Não, o nosso alfabeto não é o sirílico, é só na Rússia e na Ucrânia. Aqui na Polônia o alfabeto é um pouquinho diferente, tem algumas ONL que é diferente, mas eu falo que eu sou um fake, eu fingo muito bem.

2481.834
Ramayana
Porque eu fico muito nervosa quando eu tenho que falar polonês e aqui a gente tem o formal e o não formal. Eu sempre tento falar formalmente, porque a primeira coisa que a gente tenta aqui é o formal. E quando eu vejo eu estou falando igual uma criança, porque eu aprendi com os meus filhos também.

2483.285
mulheresimigrantes
e aí

2505.964
Ramayana
E aí a pessoa olha assim e fala, oi? Eu falo, desculpa, eu não falo tão bem, ainda estou aprendendo. Aí a parte pior, porque a pessoa vira pra mim e fala, quanto tempo você tá aqui? Eu falo, sete anos. Mas é um idioma muito diferente.

2521.118
Ramayana
E eu não falo o tempo todo, mas eu acho que aqui, quando você fala o básico, eles te abrem portas. As pessoas te olham com admiração, falam, nossa, que bom, você está aprendendo, você vai conseguir. Eu acho que essas palavras de incentivo tiram a gente daquele lugar da vergonha.

2541.886
Ramayana
Infelizmente falo errado, mas vou me dedicar, vou estudar nesse próximo ano, acabo meu curso de inglês agora, vou fazer a prova final e aí eu vou me dedicar ao polonês e da próxima vez, se um dia você vier me visitar eu vou te mostrar a cidade, falar com todo mundo em polonês bonitinho.

2561.288
mulheresimigrantes
Mas, ali, o suficiente pra você ser um ser humano, uma adulta funcional. Então, ir a médica, ligar pra algum serviço...

2571.766
Ramayana
Não, ele vir sim, né, porque... Então, consultar médica, consultar médica, eu peço para ajuda para os universitários, que vem Luca e Lara, entendeu? Aqui em casa a gente tem um job grade, que é, primeiro, chame o Luca, aí, por exemplo, né, o Franklin não fala polonês, meu marido não fala polonês, então ele me chama, aí eu não consegui entender tudo, chame o Luca.

2598.626
Ramayana
está mais ou menos perdido e tal, a gente chama a Lara também para ajudar, porque aí vem... Não, mas o Luca não se perde, o Luca ajuda a gente em tudo, a Lara também, ela sempre está ali disponível, quando eu vou escrever algum texto, eu pergunto para eles, eu falo, tá certo, aí ele fala, tá.

2614.343
Ramayana
mas poderia estar melhor, e aí ele dá umas melhoradas, ele super me ajuda a escrever. Mas eu tenho muitos seguidores aqui da Polônia, eu me dou muito bem com as pessoas daqui, eu gosto muito de ter essa... Porque a maioria dos poloneses falam inglês, né? E aí vem a zona de conforto, que você já está ali no inglês, eu faço parte de uma comunidade enorme que fala espanhol, também de poloneses. Então, na realidade,

2642.517
Ramayana
Amor, se você falar polonês, você fala qualquer língua do mundo. E você aprende assim, tá? Não pense em você que eles vão ficar meses tentando aprender. Não. Eles têm toda a nossa fonética. Eles conseguem falar até pão. Se você ensinar para o polonês falar pão, ele fala. Bonitinho. Sim.

2657.392
mulheresimigrantes
Gente, que os gringos não falam pau!

2660.675
Ramayana
E eles falam bem bonitinho. Eu tenho uma amiga, uma grande amiga minha que morou em Varsovia e é polonesa. Quando a gente se conheceu a primeira vez, eu falei, não é possível. Ela falou, ah, que eu fiquei um tempo no Brasil. Eu pensando que ela falou, passou anos lá, seis meses.

2677.278
Ramayana
Falei, como assim? Ela assistia muita novela. E qual que é minha tática agora? Eu assisto novela em polonês. Tô aprendendo muita coisa nova, assim, até algumas piadinhas, sabe? Porque às vezes eu fico meio perdida nas piadas, eu falo, ué, não entendi. Aí demora pra cair a ficha, porque é diferente também.

2690.026
mulheresimigrantes
Uhum.

2696.425
Ramayana
Mas eu acho que o idioma é essencial. Quando você consegue ter essa comunicação para sobreviver mesmo, sabe? É maravilhoso. Mas aqui em Gdansk, que é uma cidade extremamente turística, todo mundo fala inglês, todo mundo já teve uma experiência internacional, muitos poloneses que estão voltando para a Polônia, isso já tem uns dois anos mais ou menos,

2719.701
Ramayana
tem facilidade para idioma, então acaba falando não só polonês. E nas escolas também você aprende. Então a Lara tem inglês, tem polonês e inglês a mais. Além das aulas tradicionais. O Luca fez durante anos, então o Luca fala polonês, inglês, português, espanhol e agora está fazendo alemão. Porque como ele já tem essa... Ele tem 14 anos.

2742.807
mulheresimigrantes
Jesus amado, socorro. Criatura, deixa eu gastar um pouco do meu polonês aqui, que eu não tenho tanta oportunidade.

2748.899
Ramayana
É uma loucura. Eles têm muita facilidade. O Luca fez aniversário agora e eu fui toda fofa falando com os amigos dele. E as crianças, não, a senhora pode falar inglês, não tem problema. E assim, eles deslancham, né? Eu assim, meu Deus. Falam muito, velho.

2772.841
Ramayana
E eu acho maravilhoso, porque eu vejo que essa nova geração, na Polônia contemporânea, a gente esquece o passado e olha para o futuro, eles vão ter uma outra visão de mundo. Acho que a Polônia, de agora em diante, principalmente depois do

2790.333
Ramayana
do pós-guerra, a gente tem uma nova visão, né? A Polônia, ela se abriu de uma maneira que ela não tinha se aberto ainda e eu tenho muita esperança, eu gosto muito daqui, eu acho que a gente tem uma economia forte crescendo, as pessoas estão cada vez mais...

2806.869
Ramayana
realizadas aqui, a Gdansk é a terceira cidade na Europa melhor para se viver, onde você tem uma qualidade de vida incrível e eleita pelas próprias moradores, isso que é o mais importante.

2823.217
Ramayana
um senso do governo, nada disso, né? As pessoas que participaram da pesquisa, segundo a pesquisa que eu li, foram categóricas, assim, dizendo, né? Eu gosto de andar de bicicleta, eu não tenho necessidade de ter carro, morar perto do mar é uma coisa incrível. Hoje mesmo eu fui na praia na neve e estava imaginando que ia estar tudo branco, né? Não está mais, né? A gente tem que

2849.002
Ramayana
pensar nisso. Acho que daqui uns anos, com o aquecimento global, a gente não vai ter as visões que a gente tinha quando eu mudei para cá, por exemplo.

2859.224
mulheresimigrantes
E continuando na adaptação das Cria, ainda mais, quase oito anos, como que foi para os dois, principalmente para o Luca, porque ele teve essa parte de que basicamente agora metade da vida dele foi no Brasil e metade agora na Polônia.

2885.708
mulheresimigrantes
De certa forma, sim, vai continuar sendo brasileiro para sempre, mas você já começa, que são anos formativos, aí você já acaba tendo um pouco mais dessa visão até de... Tá, eu me formei como pessoa aqui, então, sou polonês. Como que é para vocês também, como pai e mãe, assistir essa adaptação das crias em serem imigrantes também?

2913.234
Ramayana
Nossa, acho que o que mais me pega nesse momento é que eu vejo que tudo que a gente fala eles não realizam, mas o que a gente faz fica. Então, eu acho que eu tive essa primeira consciência quando eu vi o Luca ajudando outro imigrante que chegou na escola.

2935.503
Ramayana
Chegou um menino na sala dele e ele foi extremamente acolhedor, extremamente gentil. Eu falei, nossa, filho, que incrível. Ele falou, não, eu fui bem recebido, então eu também tenho que receber bem. E quando chega alguém aqui, você também recebe assim.

2952.483
Ramayana
E aquilo foi o meu primeiro impacto, ele era pequeno ainda quando ele me disse isso, eu falei nossa, então realmente eles prestam atenção no que a gente está fazendo. Depois uma família brasileira também veio para cá e estudaram na mesma escola das crianças e foi lindo ver o desenvolvimento dessas crianças que tinha acabado de chegar e como os meus filhos estavam abertos a receber, a compartilhar toda essa experiência.

2978.729
Ramayana
Então, eu senti ali que eu falei, nossa, as crianças estão tendo oportunidade de exercer cidadania em outro lugar do mundo. Eu amo falar sobre o Brasil, então eu fiz um trabalho voluntário indo, visitando as escolas aqui do meu bairro, mostrando a nossa cultura, falando um pouquinho desde a época do Descobrimento, mostrando a cultura polonesa que tem no Brasil, porque a Polônia,

3003.951
Ramayana
O Brasil é o país que mais tem comunidade polonês depois de Chicago, então é o segundo no mundo. A gente tem uma comunidade gigantesca, inclusive o Polska Fest, que é em Curitiba, quando celebrado é igualzinho aqui, não tem nada de diferente, que é na Vielcanot na Páscoa. E a gente começou, eu fico meio confusa às vezes,

3030.572
Ramayana
Mas quando a gente começou a falar sobre o Brasil, as crianças perceberam a importância de representar o país também. Então, falo sempre isso para eles. Sempre que vocês estiverem em qualquer lugar, vocês estão representando o Brasil. As pessoas vão olhar para vocês também como brasileiros fazem. Então, por favor,

3053.575
Ramayana
Eu quero que vocês sejam extremamente educados, extremamente gentis nessa jornada. E aqui é muito comum as pessoas perguntarem para nós e para eles. De onde vocês são? Do Brasil? Nossa, mas por que vocês estão morando aqui?

3068.575
Ramayana
E aí eu digo sempre, a gente escolheu morar aqui, foi uma escolha, porque quando terminou o contrato do Franklin, eles queriam realocar ele em outro país, eu não aceitei, eu disse que eu gostaria de continuar aqui com as crianças, na época a gente tinha um ano e pouquinho de Polônia.

3086.467
Ramayana
Ali eu falei, não, acho que mais uma mudança, as crianças não vão se sentir seguras o suficiente, porque a mudança também acaba entrando na vida, mudança de país, no caso, acaba entrando na vida deles como algo muito grandioso, porque os seus laços, as suas relações são desfeitas, você não vai ter o mesmo contato, e a gente tem que tomar muito cuidado com isso, principalmente quando você imigra com adolescentes.

3112.022
Ramayana
Eu tenho amigas que têm filhos adolescentes que vieram para cá e tiveram que voltar porque não tiveram uma boa adaptação. Mas tem o caso de amigas que mudaram e as crianças conseguiram se adaptar super bem à nova cultura, à escola, porque é difícil, é muito difícil você chegar na adolescência e ter essa facilidade, né? Que nem sempre é fácil para todo mundo. A gente que é adulto, a gente já tem uma situação delicada. Imagine adolescentes.

3141.22
mulheresimigrantes
Adolescente já é uma categoria interessante.

3145.094
Ramayana
Mas você sabe que eu acho que está havendo uma mudança? Eu vejo uma mudança assim ó, gigantesca, pelo menos dentro da nossa realidade aqui, né? As crianças estão muito abertas, elas sabem sobre o mundo, elas conversam com você de igual pra igual e falam sobre problemas que a anos atrás eu não falaria.

3167.697
Ramayana
Um caso que aconteceu comigo esses dias muito engraçado, eu estava na academia e quando acabava a aula eu seca o cabelo. E uma senhorinha mesmo veio voando falar comigo, como seu cabelo é bonito, pegando no meu cabelo e eu ri.

3184.974
Ramayana
Mas eu ri, porque, coitada, sabe? Eu falei, ai nossa, obrigada e tal. Tem uma menina, ela devia, ela era jovem assim, devia ter uns 17 anos, ela começou a falar com a senhora em polonês, não toca no cabelo dela, é falta de educação, você não pode tocar no cabelo dela.

3199.582
mulheresimigrantes
Ah, que legal! Obrigada! Não precisa me explicar tão bem, né? Mas...

3200.469
Ramayana
Eu falei, calma, tá tudo bem. E a senhora ficou assustada. Falei, não, não tem problema, eu a conheço. A gente já fez aula junto. É uma pessoa que eu tenho intimidade. E ela fez esse elogio. Tá tudo bem. Ela falou, mas você sabe que tá errado. Eu falei, eu sei. Eu sei, porque...

3220.196
Ramayana
Não precisa me explicar. Nós sabemos que tudo bem, a gente entende. Não fazia parte da cultura poloniana. Depois do comunismo, não foi um país aberto. Eles sofreram muito aqui. Então, até a gente chegar nos dias atuais, na Polônia Contemporânea, com pessoas de diferentes religiões, de diferentes credos, a gente está passando por um processo transformador, e isso requer tempo.

3246.101
Ramayana
O que eu falo sempre é que as pessoas aqui estão abertas. A gente vive num país maravilhoso, onde ele te oferece todas as oportunidades, mas as pessoas ainda, eu preciso de educação e letramento racial. Demora um tempo? Demora, eu também precisei de um tempo para entender, porque com 40 anos, gente, pelo amor de Deus,

3265.879
Ramayana
Eu não imaginava que eu ia estar hoje onde eu estou. Eu não idealizei isso, não coloquei isso como meta de vida e que o mundo ia ter se transformado desse jeito. Então, eu acho que com calma a gente chega lá. Eu sou muito esperançosa.

3283.097
mulheresimigrantes
Ah, que assim seja, viu? Porque olha, tem hora aqui. Mas essa história aí do cabelo, é interessante que depois de tanto tempo e de passar por tantas experiências assim, a gente consegue

3299.565
mulheresimigrantes
perceber quando alguém está fazendo na maldade, você consegue perceber se está sendo desconfortável ou não para você e se você está, de certa forma, aberta a deixar aquilo acontecer. Eu fui para uma viagem para o Nepal em novembro e uma das meninas que estava na viagem com a gente, ela tem o cabelo bem enroladinho, extremamente fino.

3305.589
Ramayana
E aí E aí

3327.807
mulheresimigrantes
E ela, mano, a gente vai ficar dias sem tomar banho, o cabelo vai ficar... Ela quer saber uma coisa? Vou fazer trança. E fez trança, o cabelo dela, sem trança, talvez seja um pouquinho mais longo que o seu. Só que ela colocou então bastante tecido ali junto, ficou um puta de um tranção. Ela fazia coca e tal, a gente brincava, falava que ela parecia um avatar, que tinha aquela que conectava, assim. E era...

3355.998
Ramayana
Só aqui, ó.

3358.046
mulheresimigrantes
E era branco, era lindo, chamava muita atenção.

3363.114
mulheresimigrantes
E aí teve uma mulher que pediu pra tocar, uma nepalesa, e ela sentiu ali que foi extremamente, quase que na inocência, da curiosidade, de ser algo que ela nunca viu na vida antes. E ela se sentiu confortável de falar, não, tudo bem, pode tocar. Já teve um cara que foi numa situação que ela se sentiu meio desconfortável, não.

3390.179
mulheresimigrantes
não vai, meu cabelo não vai mexer, é isso, né? E a gente conseguir se permitir também deixar o outro desconfortável quando a gente não quer deixar fazer alguma coisa e, ah, se tá tudo bem pra mim. Mas que bom que teve essa menina aí, pra caso você não tivesse a coragem de se impor ali na hora, aham,

3394.053
Ramayana
Exatamente.

3411.886
Ramayana
e não tivesse entendendo o que ela estava dizendo, uma jovem veio me auxiliar. Eu achei aquilo de uma delicadeza e por mais que a gente não goste de trazer esse tema à tona, eu acho que o constrangimento social é algo que existe, é necessário que exista. A gente tem que trazer algumas pessoas para esse lugar, porque as formas

3435.657
Ramayana
de te colocar num outro lugar, são imensas. Agora, a partir do momento que você consegue constranger essa pessoa e mostrar pra ela que você está ali, você está entendendo o que está acontecendo, como um toque no cabelo, ou mesmo falar, nossa, que pele bonita, isso já aconteceu comigo. E eu falei, eu não gosto que toque na minha pele, eu não gosto, eu não me sinto confortável. Não? Falei, não, não gosto, não gosto.

3463.083
mulheresimigrantes
Você gosta que toca na sua vida, né? Que é uma pessoa que não tem tididade.

3464.582
Ramayana
É? Você gosta que toca na sua? Não. Eu falei, então, eu também não. Eu também não gosto, não me sinto confortável. Eu acho que a gente tem que... Mas, de alguma maneira, aquela situação você sempre sabe. A gente sempre sabe o que o outro quer dizer. Ou se falou de uma maneira ruim, ou se disse alguma coisa mal.

3490.614
Ramayana
Na situação você se sente mal, a gente tem um feeling. E a leitura, gente, não tem pra onde correr. Então aqui é impossível sair na rua e as pessoas não me olharem. Mas no Brasil é impossível sair na rua e as pessoas também não me olharem. E eu olho pra mim e falo assim, é porque eu sou muito bonita. Acabou. Eu vou falar que é porque eu sou bonita. Quer olhar? Olha, não tem problema. Acabou. Eu coloco isso.

3515.35
mulheresimigrantes
Tem quanto de altura?

3516.698
Ramayana
Eu tenho 1,74, não sou tão alta assim, mas eu acho que o meu cabelo, o meu jeito, a forma com que eu me visto, eu sou muito colorida, tipo, tá todo mundo de preto no frio aqui, eu tô com o casaco pink andando no meio da cidade. E eu me sinto bem assim, eu sou assim, eu não tenho que agradar ninguém. Eu lembro que quando eu mudei pra cá as pessoas falavam, ah, mas você tem que mudar o seu estilo, ah, mas você tem que mudar o jeito que você se veste, ah, imagina, você usa muita maquiagem,

3543.524
Ramayana
Falei, gente, mas eu não estou tão maquiada assim, é só passei um lapizinho no olho, botei um rímel ou passei um batom, sabe? E as pessoas querem te tirar do seu lugar o tempo todo. Eu falei, não, eu estou aqui, eu não vou mudar o meu jeito, eu vou abraçar as pessoas, eu vou dizer que eu estou feliz, eu vou dizer que eu estou triste, porque aqui não é muito comum você falar. Normalmente aqui quando você pergunta para a pessoa como você está, a pessoa sempre responde, eu estou muito mal. O polonês sempre responde isso.

3572.944
Ramayana
Ai, a tia Nashi, não faz essa pergunta, meu amor, porque eles vão te dizer, vão começar a falar. Eu adoro falar com as panizinhas na rua, porque ela prende horrores. Panizinha é senhoras, é pane aqui, aí eu coloquei panizinha no nome delas. E aí eu vou no mercado, eu digo tchau de panizinha, tchau de panizinha, chame todo mundo de panizinha, as panizinhas vem, conversa comigo, me abraça no meio da rua.

3595.981
Ramayana
Assim, eu sou assim, eu gosto de gente. Eu gosto de gente. E no dia que eu também não tô afim, eu não saio de casa. Porque eu sei que se eu sair, as pessoas vão ficar olhando, vão querer falar. E eu gosto disso. Eu falo que eu sou uma celebridade na minha cidade, gente. É maravilhoso.

3613.848
Ramayana
É engraçado, mas de verdade, quando a gente mudou para cá, eu acho que não tinha uma comunidade ainda. Tinha alguns estudantes negros, mas você não via com tanta frequência. Agora, eu acho que está tendo muito mais. Então, você vê pessoas de diferentes etnias, de diferentes lugares, de diferentes formas, com diferentes cabelos. E é maravilhoso, é maravilhoso ter feito parte disso, ter construído essa nova realidade.

3643.626
mulheresimigrantes
E essa frase do você tem que, querida, eu não tenho que nada. Se você gosta.

3648.746
Ramayana
Nada, nada. Mas é uma questão também da idade. Estava falando isso com meu marido esses dias. Quando a gente conhece pessoas mais novas, a gente já vê que já não tem que nada.

3663.899
Ramayana
Uma série de paradigmas já foram quebradas, já ficou para trás. A gente não precisa te explicar. Mas quando você fala com pessoas, até da minha idade mesmo, nossa, eu falo com algumas pessoas, eu falo, gente, a pessoa parou no tempo. Ela não tem esse direito, sabe? O que ela está falando? E aí, nossa, você pensa com outra cabeça agora porque você está morando aí. Ou quando eu falo com algum polonês também, eu falo, gente, mas o mundo mudou. Mudou?

3690.811
Ramayana
Mudou? Eu falei, gente, pelo amor de Deus, abre uma conta no Instagram, que aqui não é comum utilizar o Instagram. É tudo novo, tá começando.

3701.616
mulheresimigrantes
Aí você falou essa coisa da maquiagem e tal, gente. Pra quem está só escutando agora, você não está conseguindo ver a beleza dessa mulher. Mas ela tem uma boca maravilhosa e qualquer batonzinho chama a atenção. E aí, me fez lembrar de um podcast que eu escutei recentemente, falando justamente sobre beleza.

3728.78
mulheresimigrantes
E aí, olha que interessante, né? Por tantos anos, traços negroides foram recriminados, né? Falado assim que, ah, porque não é bonito, porque é o bocão, porque é isso, porque é aquilo. O que é que as mulheres brancas estão fazendo hoje em dia? Colocando tal do enchimento na boca e, pelo amor da deusa, eu tenho aquela coisa, tenho até amigos que fazem.

3748.251
Ramayana
Eu vejo...

3759.804
mulheresimigrantes
Olha, para mim, eu, Barbara, indivíduo, não dá. Eu não gosto, eu não acho bonito, porque fica uma coisa extremamente artificial. Se você veio com essa boca linda, maravilhosa que a deusa te deu, que lindo! Acho, bocão é a coisa mais linda do mundo. Mas é interessante como só agora, né,

3785.606
mulheresimigrantes
que os brancos estão colocando aí o enchimento na boca para ficar com aqueles lábios carnudos maravilhosos, agora é bonito, né? No que veio de fábrica não é.

3797.089
Ramayana
Mas eu sinto que as coisas estão indo para um outro caminho. Quando comecei a utilizar a internet, que faz muito pouco tempo, eu abri minha conta na época da pandemia, tem três anos e pouco, eu comecei a olhar para as pessoas, eu falava, gente, mas está todo mundo muito parecido, o que está acontecendo? Eu falei, amiga, o que você fez?

3815.998
mulheresimigrantes
Todo mundo é igual. O tal da hormonização facial.

3820.538
Ramayana
Mas não é algo pensado em você. Eu acho que é o ser para pertencer. Você não olha para dentro, você olha para fora o tempo todo. Você tem uma exposição absurda de uma vida irreal, muitas vezes.

3838.729
Ramayana
de conquistas que estão chegando em outros lugares, e as mulheres não param para pensar se isso vai fazer bem fisicamente, se é algo estético que combina com o rosto dela. Eu sou super a favor. Já fiz várias coisas, Bárbara, várias coisas. Se a gente sentar aqui, meu amor, é tudo plástica. Brincadeira.

3860.418
Ramayana
Não, mas eu falo sempre. Eu falo, nossa, eu vou cuidar. Por exemplo, eu tinha muito preconceito com quem ia pra academia, por exemplo. Eu via as pessoas cuidando da saúde, eu falava, gente, o povo não... Não, mas, amor, eu era orca-holic, eu queria trabalhar, não quero saber, não quero saber, eu quero, quero...

3867.927
mulheresimigrantes
Ai, gente! O que esse povo está malhando seis horas da manhã na praia?

3877.722
Ramayana
Mas como assim? Qual que é a necessidade que a pessoa sente de fazer tanto exercício? E isso, isso e aquilo. Eu sempre fiz um exercíciozinho, mas também... O que eu pensava? Eu falava uma estratégia social. Vou pra uma academia, conheço fulano que é cliente de ciclã... Eu sempre pensava nisso, entendeu? Olha que louca!

3895.538
mulheresimigrantes
É gente, networking ali é só pra isso. Vamos deixar contrato.

3897.961
Ramayana
Na academia também, na academia também. Não, eu já ia pra academia já ia tipo pensando, nossa, fulano vai malhar, tá horário, sicrando, tá horário. Se eu pegar entre esse horário aqui eu pego os dois, eu já tinha isso na minha cabeça, muito maluca. Mas até então eu cuidava da minha saúde, mas até passava por uma situação delicada mesmo de saúde.

3918.046
Ramayana
E quando eu fiquei na UTI, eu falei, meu Deus, eu nunca imaginei que eu fosse passar por uma situação dessa, meu corpo não respondia aos medicamentos, eu sentia muita dor, eu falava, meu Deus, eu tive um AVC, na realidade, aquele entupimento de uma aveia, meses antes de vir pra cá.

3938.042
mulheresimigrantes
Lá... O que é isso, Samara Noir?

3940.188
Ramayana
Fiquei muito, muito mal. Os médicos ficaram chocados. Até então eu não sabia o que eu tinha e eu ficava tomando medicamento e a dor não passava. E o médico falava, olha, você tem que ter força, o seu corpo tem que ser resistente, é tudo isso.

3958.575
Ramayana
E eu falava, mas resistência, o que ele falava de resistência muscular, resistência... Porque no final ele falou que eu tinha uma cephalé, cervicogênica também, enfim, milhares de situações. Mas o que acontece quando você não tem essa disciplina de cuidar do corpo, de se olhar e entender o que... Igual você falou, o corpo dá sinais. Dá sinais o tempo todo e a gente não vê, a gente não enxerga. E quando eu vejo essas pessoas realizando esses procedimentos,

3987.022
Ramayana
Eu não acho nem que é só por uma questão estética de falar assim, ah, vou ficar bonita. Não, vou fazer porque todo mundo está fazendo. A pessoa não pensa, ela não para para raciocinar que aquilo pode ter algum problema no corpo dela. Eu perdi, o ano passado, uma grande amiga, a Lígia Fazio, que era uma mulher belíssima, que eu conheci quando começou a carreira. E, assim, ela morreu por conta da aplicação de PMMA. E não sei se você viu,

4016.22
Ramayana
Ela saiu em todos os jornais no Brasil, na época ela deixou dois filhinhos lindos e, assim, ela morreu por conta do corpo. Porque ela ficava o tempo todo se olhando no espelho, não se achava adequada o suficiente, ela queria sempre ter uma perfeição, uma beleza algo estético, assim, que é inalcançável. A gente nunca vai olhar pra...

4040.213
Ramayana
para o nosso corpo, para a gente mesmo, e se sentir bonita se a gente não estiver bem com a gente por dentro, se acolher, entender. Eu erro, você erra, todos nós erramos. Então, eu não consigo olhar só por esse lado. Eu acho que a gente precisa falar sobre isso mesmo, porque eu vejo uma doença afetando as pessoas. Até quando a gente fala de militância mesmo, eu tive amigas que se afastaram de mim,

4064.224
Ramayana
porque eu não concordava com algumas coisas, e eu não concordo, eu falei, nós somos mulheres, nós somos pretas e eu não concordo, você não me representa, eu acho absurdos as coisas que você fala, quando a gente fala de segregação, sabe, umas coisas que você fala...

4080.708
Ramayana
Amor, isso já não deu certo. Historicamente, não deu certo. Não tem como a gente querer voltar para uma situação que é inviável. É inviável. Se a gente começar a entrar em guerra e a gente colocar sempre o nosso propósito de ataque, estar o tempo todo em condição de ataque, não vai te fazer bem fisicamente. E eu não quero comentar sobre isso o tempo todo. Tanto que eu nem abordo essa questão no Instagram,

4107.671
Ramayana
nesse momento porque eu não quero sair da minha bolha, sabe? Eu não estou pronta para isso. Eu sofri pela primeira vez na minha vida haters na situação da guerra da Ucrânia, porque o Luca já trabalhava como voluntário aqui no Museu da Segunda Guerra. A história da guerra é muito forte, né? Eu conheço pessoas que sobreviveram. Enfim, muita coisa aconteceu. A gente gosta muito de história aqui em casa.

4133.916
Ramayana
E quando começou tudo isso, a primeira coisa que eu fiz foi começar a juntar as coisas aqui em casa, ligar para as minhas amigas que estavam lá na Ucrânia e falar, ó, vem pra cá.

4144.787
Ramayana
A gente vai se ajudar. Eu não pensei em nada. Eu não pensei em nada. Eu só pensava que as pessoas tinham que sair de lá para não morrer. E aí, acho que no quarto ou quinto dia, começaram os ataques. As pessoas falaram, nossa, mas você está ajudando pessoas brancas? Como você tem coragem de fazer isso? Você tem que ajudar os negros que estão lá e não estão conseguindo sair. Eu falei, não calma, mas não tem fundação.

4170.077
Ramayana
Pega, dá um jeito. Eu falava, gente, a vida não é assim, eu não posso sair daqui e ir pro sul, pro outro lado, atravessar o país, me colocar em risco. Eu tô fazendo o que eu posso, dentro da minha realidade, vamos receber as pessoas aqui, a nossa cidade tá super aberta, a gente tem possibilidade de fazer isso e todos os recursos que eu tiver pra ajudar os brasileiros a sair de lá, eu vou sair, mas eu não vou fazer conta.

4194.974
Ramayana
Fulano de tal, como você se considera? Qual a sua leitura? Gente, não dá, desculpa. E aí, nossa, eu fui super cancelada. Nossa, não, você não poderia ajudar essas pessoas. Você não poderia pensar desse jeito. Eu falei, gente, a gente está falando de vida. Eu quero pegar um cachorro que está lá. Entende? Eu quero pegar o gato. A gente tinha uma fundação que pegou

4219.155
Ramayana
cavalos, gatos, cachorros, e a gente tentava trazer eles pra cá, porque é importante também. As famílias que vieram pra cá vieram praticamente sem nada, eu conheço pessoas que vieram com uma roupa do corpo. Enfim, foi uma situação bem difícil pra mim, eu comecei a ter dedos quando a gente fala sobre algumas coisas e parar de ter medo também de dizer não, né? Que é uma coisa que pra mim foi uma lição, assim, de dizer não, se tá errado eu não concordo com você.

4247.722
mulheresimigrantes
porque aí se por um lado você ajuda apenas pessoas pretas, ah, mas e os brancos? Aí

4256.7
Ramayana
Não é essa questão, não foi essa questão, foi uma coisa assim, ninguém estava esperando, em primeiro lugar, ele atacou de surpresa. Então, quando eu falei com a Fê, eu falei, pelo amor de Deus, onde vocês estão? Ela, não, a gente ia ficar, eu falei, não, eu falei com uma amiga, no caso, eu falei, vocês têm que sair, e o que a gente tentava falar e

4276.664
Ramayana
dizer para as pessoas falar gente as notícias são horríveis vocês têm que sair daí é uma zona de confronto e pelo que a gente está entendendo a qualquer momento pode ele quando ele chegou em Chernobyl a gente ficou muito assustado toda Europa ficou porque a gente sabe do que aconteceu aqui há anos atrás a gente não faz tanto tempo assim

4298.409
Ramayana
Então, ali começou a me causar uma estranheza, algumas questões de movimentos também. Claro que eu sempre vou olhar com os meus olhos. Cada um tem a sua experiência, cada um tem a sua escrevivência, eu jamais vou passar em cima disso, respeito todas as pessoas. Gosto de falar sobre isso dentro da...

4317.329
Ramayana
de um lugar onde eu me sinto acolhida e eu sei que eu não vou sofrer nenhum tipo de agressão, porque eu não sei lidar com isso, gente. Essa é a real, entendeu? Depois tem que ficar gastando dinheiro na terapia. Eu estava até vendo esses dias uma terapeuta nova.

4328.063
mulheresimigrantes
Ninguém paga, ninguém paga esse boleto.

4329.275
Ramayana
Ninguém paga, gente. Ninguém paga. E eu falo assim, o que eu vou fazer com isso? Gente, é muita dor. Vocês estão muito doloridos. Não, não dá. Não dá. E eu sou muito humana. Então eu quero sempre... Eu falo, não, vamos trazer, vamos ajudar, vamos fazer. E eu acho que as pessoas também precisavam pensar um pouco assim. Porque quando você fala, não, não foi bom o que você disse,

4356.647
Ramayana
Algumas pessoas têm essa reatividade. E eu entendo, até acolho, mas eu não consigo mais conviver, não.

4363.865
Ramayana
Eu já começo a colocar numa outra caixa, porque para mim é inviável. Não bate com os meus princípios, sabe? Eu acho que a gente não pode colocar todo mundo numa caixa. É muita história. Igual esses dias que eu estava falando. Chega uma menina do Maranhão. E chega uma menina do Sul. Gente, é duas realidades. Eu falei, gente, a gente está falando do mesmo assunto. Você tem uma visão. E você tem outra totalmente diferente.

4391.766
Ramayana
totalmente diferente. A gente são dois Brasis, olha o tamanho do nosso país, é um continente. Então é impossível a gente ter a mesma visão e mesma percepção de tudo.

4402.995
mulheresimigrantes
Mas a galera criticar o simples fato de você estar ajudando...

4408.968
Ramayana
criticaram meus filhos por isso. Eu falei, gente, eu não consigo acreditar. Mas, ao mesmo tempo, o que eu fiz? Parei de postar. Tive amigos maravilhosos, pessoas incríveis em todos os lugares. E sempre que... Eu não participo só de ONG aqui, eu participo de ONG no Brasil também. Acho que todos os meus esforços vão pra lá. Eu gosto de cuidar dos meus. Então, eu sempre priorizo o Brasil. E...

4434.155
Ramayana
Aqui também foi necessário, sabe? O melhor amigo do meu filho era ucraniano, a família dele tava lá, eu queria trazer ele pra cá, não quero que eles fiquem lá. Você tem laços, né? É difícil a gente explicar isso, mas você vai criando laços também afetivos. Esses dias uma brasileira virou pra mim e falou assim, nossa, mas você defende? Eu não falo, claro que eu defendo. Eu gosto de morar aqui, é um dos lugares que me acolheu, eu tenho laços, meus amigos, a minha vida, o meu bairro.

4459.787
Ramayana
Eu cuido das plantas, eu cuido dos gatos na rua, gente. Pelo amor de Deus, como é que eu não vou gostar daqui? Eu vou gostar. Sou muito feliz. E é difícil a gente ter essa percepção. Do mesmo jeito, quando eu estou no Brasil, eu vejo alguém na rua. Eu sou a primeira a descer, perguntar se está tudo bem. Está bem? O que você precisa? Vamos conversar? O que eu puder fazer e ajudar. Mas acho que isso é muito da minha criação, sabia? Eu cresci num bairro onde todo mundo se ajudava. A gente sempre olhou. A Bela Vista sempre foi uma comunidade. E a gente teve pessoas maravilhosas, né?

4489.735
Ramayana
religiosos, não religiosos, de todas as religiões. Eu falo que, gente, a Bela Vista é a coisa mais linda do mundo. Dentro da igreja da Queropita tem uma celebração de religião de matriz africana. Você tem noção? Uma igreja católica que acolhe uma celebração dessa? É lindo!

4507.568
mulheresimigrantes
Nunca antes da história, né? Olha...

4509.411
Ramayana
Não, Bahia, pelo amor de Deus, na Bahia a gente tem a lavagem do Bonfim. Também os padres na Bahia são maravilhosos. Padre Julio Lancelotti, que foi um exemplo de vida pra mim. Sou apaixonada por tudo que ele faz, assim, apoio 110%. Ele fala, amor, vem, eu vou. O que você precisa? Tô lá. E eu cresci na frente da casa de apoio Brenda Lee, que foi uma casa nos anos 90.

4533.843
Ramayana
2000, a Brenda, nossa, eu era minha ídola, olhava ela chegando, falava, Brenda ali era uma grande, para quem não conhece, era uma grande mulher trans nos dias atuais. Na época, eu como criança, a gente falava, meu Deus, ela é muito linda, essa trava, ela é maravilhosa. E, nossa, para mim foi um exemplo, ela ia fazer a casa das bonecas na frente da minha casa, na rua que eu morava quando eu era criança.

4563.592
Ramayana
No meio daquilo tudo veio o boom do HIV e ela acolheu as pessoas na época que estavam doentes lá naquela casa, transformou o plano e o padre Júlio Lancelotti foi uma das pessoas mais incríveis porque ele ia lá, ele fazia trabalhos, ele explicava pras pessoas que isso eu não pegava, porque assim, as pessoas não queriam andar na minha rua.

4584.701
Ramayana
Fala, vai, vou ficar doente também. Porque na época a gente passou por muitas coisas. Eles falavam coisas absurdas. Os noticiários eram, nossa, absurdos. Não dá nem para repetir. Mas eu vi e cresci com aquilo ali, então acho que isso faz muito parte também na minha vida. A Bela Vista, o Vai Vai, a Escola de Samba, a Igreja Católica, as religiões de matriz africana. Tudo junto, sabe? E a gente não tinha distinção.

4612.159
mulheresimigrantes
e convivendo bem tranquilamente ali, harmoniosamente.

4615.338
Ramayana
E aí um dia no off, a gente sempre convidava muito bem, muito bem, até chegar algumas outras pessoas no bairro, a gente vivia muito bem. Sempre a gente brincava que a gente sempre foi uma cidade pequena dentro de uma metrópole, porque parecia que a gente vivia numa vilinha, sabe? Todo mundo se conhecia, a Bela Vista é um bairro enorme, né?

4640.469
Ramayana
Mas a gente cresceu junto. Quando eu volto para São Paulo, eu encontro com os meus amigos, a gente fala, gente, nada mudou, a gente continua igual. E cada um é cada um, entendeu? Não tem essa. É muito voltar para onde você é, saber quem você é, que nada te tira.

4659.633
mulheresimigrantes
E falando agora sobre a sua casa aí na Polônia, você também continua inserida no mundo da moda. Qual que você vê, qual que é o seu papel dentro dessa indústria? E o que mudou no geral na indústria da moda, que você ainda tem contato no Brasil? O que mudou desde os anos 90?

4683.319
Ramayana
Nossa, eu acredito que hoje o que mais as pessoas estão tendo noção, e era uma coisa que antigamente tinha muito preconceito, a gente falar de second hand, brechó, né?

4701.391
Ramayana
Moda consciente, consumo consciente, eu falo muito sobre isso no Instagram. Como uma pessoa que trabalha por trás do que todo mundo acaba utilizando, eu prezo muito pela qualidade. Eu acho que hoje em dia a gente tem que falar sobre reutilização de matéria-prima,

4722.809
Ramayana
ainda existe essa questão, quando a pessoa vai comprar uma roupa, ela quer algo de qualidade, ela quer pagar barato, mas nem sempre o mais barato vem de um lugar e de uma situação plausível. Então a gente tem que pensar em tudo isso, o que a gente está consumindo, como a gente está consumindo,

4745.811
Ramayana
As formas que a gente tem hoje em dia de consumir é muito... principalmente aqui na Europa, tá? Quando a gente fala em consumo estratégico, o cliente, quando ele entra numa loja, ele vai comprar algo por algo específico. Ele não compra igual a gente compra no Brasil. É muito diferente. Ou é por inverno,

4764.684
Ramayana
ou é para o verão para utilizar, e aquela roupa não tem um prazo de validade. As peças são pensadas mais a longo prazo, porque ela sabe que aquilo vai ser reutilizado, e eu acho isso fantástico. Aqui em Gdansk a gente tem grandes marcas que estão entrando no mercado europeu.

4783.746
Ramayana
as marcas estão produzindo aqui com marcas locais, com produtores locais, isso é maravilhoso. Eu acho que esse é o caminho que eu gostaria que a moda caminhasse e eu queria fazer parte desse movimento, sabe? De dizer isso para as pessoas e as pessoas utilizarem. Eu trabalho com algumas marcas aqui, como influenciadora, como modelo e como coordenadora de moda também, mas todas as marcas com que eu trabalho, existe uma

4814.906
Ramayana
um alinhamento de ideias, sabe? Eu não faço nada por acaso. Eu acho que a gente tem que compartilhar. Não é só a marca em si ou a visibilidade que a marca quer ter. Eu acho que a gente tem que ter um plano de ação de longo prazo. Então, ok, vamos trabalhar juntos? Eu trabalho dessa maneira. E eu gostaria de saber como vocês estão trabalhando também. Onde veio o seu produto, qual o seu comprador, qual o seu fornecedor. Eu acho que aí é onde começa a fazer sentido pra mim

4843.729
Ramayana
a diferença da moda no mundo. Mas eu trabalho com joia também, trabalho com tudo. Olha, é mais fácil te explicar o que eu não faço. Porque eu faço tudo.

4855.506
mulheresimigrantes
Eu queria entender um pouco o que é a sua profissão. Sinta a sua vontade. Qual é o título da sua profissão e o que você não faz, então?

4877.278
Ramayana
o que eu não faço. Quando eu mudei para cá, eu demorei muito tempo para entender o que eu gostaria de fazer.

4886.393
Ramayana
Então, veio a pandemia, aquele bum, alucinante. E aí eu falei, meu Deus, estou um pouco assustada com tudo isso que está acontecendo. E eu comecei a ter mais tempo para estudar, para migrar, para migrar de carreira, no caso. Até então, eu ainda era focada no Brasil, estava ajudando as pessoas na época da pandemia. E um amigo me falou que a mãe dele tinha uma empresa pequena de biquíni no interior de Minas Gerais, me contou uma série de situações. Eu falei, não.

4914.889
Ramayana
vamos começar a olhar para esse lugar, então vamos pensar em coleções, em venda, em trazer o produto para cá, então isso é o que eu faço. Então a gente cuida desde o processo do primeiro ponto, onde a marca vai comprar um pedaço do tecido, ou vai estruturar uma coleção, e a gente trabalha junto durante esse período, durante seis meses mais ou menos, até onde a gente tem uma coleção pronta.

4940.179
Ramayana
Mas hoje em dia eu trabalho com o marketing também, quando um cliente... Eu tenho muita facilidade de fazer conexões com essas pessoas, que eu tenho esse alinhamento. Então, quando alguém fala que comprou um produto de um produtor local, já ganhou meu coração, sabe? Porque eu falo, nossa, a gente tem uma costureira daqui. Então, um exemplo, uma marca que eu trabalhei que chama Samantha, aqui na Polônia.

4967.5
Ramayana
o pessoal da agência me chamou para fazer a campanha, eu falei, nossa, não acho legal trabalhar com lingerie, porque eu não me sinto bem para postar fotos de lingerie, não me sinto autossuficiente, sabe? E eu estava passando por esse processo, eu falei, gente, por que não? Uma mulher de 40 anos sofre tanto etarismo há uns anos atrás, sabe? Nossa, é velha demais para ter conta no Instagram, para que você vai querer isso? Eu falei, não, é...

4994.974
mulheresimigrantes
Ai, gente...

4996.937
Ramayana
Mas por que não? Eu falei, nossa, verdade. Como vocês trabalham? E aí eu me apaixonei pelo processo, né? Então...

5005.922
Ramayana
O engraçado foi. A marca tinha tudo a ver comigo. A empresa já tinha olhado pra mim com outros olhos. Eles já sabiam o que eu fazia dentro do mercado. Eu falei, nossa, maravilhoso. Eu realmente quero trabalhar, eu quero vestir, eu quero entender. E a gente veste do 34 até o 56. Eu falei, gente, que coisa maravilhosa! É muito bonito, porque a gente não tem uma idealização de uma perfeição de uma mulher maravilhosa o tempo todo. São todas as mulheres.

5034.889
Ramayana
Sabe? Quando você entra num lugar, você tem que achar o que você precisa, principalmente roupa íntima. É muito difícil. E eles falam, né? Agora tem a calcinha brasileira. Porque muita brasileira reclama que não tem calcinha. E agora tem. Agora que tem.

5052.415
mulheresimigrantes
Aqui é assim também. Tá aumentando a variedade, mas nossa, quando eu mudei pra cá era a calcinha que era literalmente o fio, não é pouquinho pano que forma o formato fio dental, não, era literalmente uma tirinha ou a calçola da vovó. E não se achava algo no meio termo.

5079.036
Ramayana
Que loucura, né? Não tem... É justamente isso, porque no Brasil a gente tem a nossa representatividade. E aqui é muito engraçado porque tem aula de bumbum brasileiro, tem depilação brasileira, balaiagem, não sei como fala em português quando você vai pintar o cabelo. É balaiagem, né? É o antigo, a dança das antigas. E é brasileira. E aí você começa a ver que a gente...

5100.094
mulheresimigrantes
É um balaiagem também. Tem a queratina brasileira também para alisar o cabelo.

5108.541
Ramayana
brasileira também. Nossa, tem muita coisa. Você vai no mercado quando chega o verão, assim, bronzeador brasileiro, maquiagem brasileira. Por quê? Porque a gente vende muito isso. A gente vende beleza, a gente vende vitalidade. Eu acho muito legal. E quando eu comecei a me abrir para as marcas aqui, trabalhando no Instagram também como

5128.573
Ramayana
influenciadora, eu falei, nossa, que bacana isso, poder trazer um pouco da realidade do meu país. Por isso que eu falo que eu faço tudo. E o foco? Que a pessoa quer fazer tudo. Esses dias eu falei, meu Deus do céu, o que eu não quero fazer? Eu preciso fazer uma lista, eu não vou fazer isso aqui.

5146.715
Ramayana
E eu queria muito conseguir entregar mais no Instagram também. Não consigo ter presente o tempo todo, postar tudo que eu queria, mas eu respondo todas as pessoas. E o mais legal, a maioria das pessoas são minhas amigas. A Marceli, que mora em Budapeste, a Rebecca Latleia, que é uma mulher maravilhosa. Gente, eu conheci tanta gente incrível aqui no Instagram, você agora. Eu acho maravilhoso isso, gente.

5173.336
mulheresimigrantes
Eu também adoro. E quais são os desafios em ser mulher ou imigrante por aí? E a gente ri, gente, porque é dia nervoso, viu?

5180.333
Ramayana
Ai, quando a gente fala em desafios, são tantos, né? Só de a gente existir, o nosso corpinho perambular por aí já é um desafio diariamente. Exatamente isso. Eu acredito sempre que a gente precisa...

5202.176
Ramayana
matar um leão por dia. Matar literalmente um leão por dia é o básico. Porque a todo momento a gente tem essas dificuldades, né? Por exemplo, aqui na Polônia as pessoas sempre perguntam, nossa, mas por que Polônia? Você é casada com um polonês? Eu falo, não. Meu marido é brasileiro. Nossa, um brasileiro? Eu falo, mas por que a surpresa? Ah, porque normalmente as mulheres brasileiras acabam casando com homens poloneses.

5230.297
Ramayana
Falando, acho que não. Eu tenho várias amigas que vieram pra cá e moram sozinhas e vieram pra trabalhar e não casaram com ninguém. Eu acho que a gente tem que colocar as pessoas nesse lugar muitas vezes, sabe? Porque a pergunta é uma perguntinha frontosa, mas ao mesmo tempo não é. Então, eu tento colocar isso pra fora. Eu acho que hoje em dia a gente pode falar muito mais, né? E...

5255.862
Ramayana
Acho que um dos meus maiores desafios dentro da nossa realidade aqui é ter essa compreensão do nosso limite entre uma mulher brasileira e uma mulher polonesa. Até onde você pode falar? Até onde você cala? A gente mora num país que é 98% católico hoje, quando eu mudei pra cara mais.

5280.128
Ramayana
Mas eu tenho muito respeito por todas, independente de credos. Mas eu acho que é um desafio para mim ainda falar sobre algumas coisas. Eu acho que a gente tem muitas questões aqui na Polona como mulheres que são tabus. Claro que a gente tem o Stracobieta, tem movimentos incríveis, mas para algumas pessoas, dentro da minha realidade, eu tenho esse desafio, sabe? De mudar esse mindset ou falar sobre a minha experiência, acho muito importante.

5311.988
mulheresimigrantes
Tem hora que a gente tem que, como você falou, né, às vezes nós estarmos calada significa conivência, mas às vezes também significa de que eu tô cansada, eu não tô afim, é uma briga que eu não vou ganhar, que eu não tô disposta,

5335.647
mulheresimigrantes
E tá tudo bem, né? E cada dia a gente vai escolher as batalhas que a gente vai travar. Hoje eu não tô afim. Hoje eu só vou ser bonita. Vou sair de casa, só vou sorrir e ser bonita. E cansa. É extremamente cansativo.

5345.36
Ramayana
Exatamente, exatamente. Leveza, a gente precisa dessa leveza, porque se você tem opinião para tudo, o tempo todo, as pessoas te cobram cada vez mais opinião.

5359.48
Ramayana
cansa, extremamente cansativo, e assim, eu não estou pra isso, sabe? Esses dias eu falei pra uma amiga minha, ela falou, mas o que que você quer fazer agora? Eu falei assim, amiga, o que que eu quero mesmo? Ah, sei lá, quero ser tipo a Silvia Brás, preta, sabe?

5377.79
Ramayana
Pegar meu helicóptero, ir até o Rio de Janeiro, voltar para São Paulo. Eu quero isso, gente. Ah, pelo amor de Deus, sabe? A gente tem que ficar o tempo todo sabendo o que a gente quer, para onde a gente vai, o que a gente vai entregar. Poxa, eu faço tanta coisa legal, sabe? Poxa, eu quero falar das coisas legais que eu faço. Eu quero ajudar a gente que quer uma oportunidade de morar fora, compartilhar uma experiência, falar com mulheres incríveis. Esses dias a gente estava no grupo do Bitongas, conheci uma menina maravilhosa

5406.561
Ramayana
cheia de ideias e oportunidades, sabe? Que quer construir uma carreira internacional. Falei, cara, vamos se encontrar, a gente senta, conversa, pensa, troca ideia, vê uma empresa aqui, vê outra empresa lá, não deu certo, vai dar certo, uma hora vai dar certo, sabe? Vamos construir a nossa realidade. Eu acho que quando a gente fala de construção de realidade entre mulheres,

5430.998
Ramayana
é algo muito poderoso, porque a gente tem esse poder, sabe? Quando eu vi você falando com o Amar, com... Ai, meu Deus, agora me deu branco o nome dela. Da Romênia? Ui! Tá.

5447.159
mulheresimigrantes
Samara.

5448.097
Ramayana
Mara, é. Oh, meu Deus. Aí eu falei, olha que poderoso tudo isso, né? A gente se conheceu num grupo de mulheres pretas e hoje em dia a gente está falando em um outro podcast, em uma outra situação. Que bom que a gente tem esses lugares para a gente se acolher, para a gente poder conversar e para a gente pensar fora da caixa. Porque as pessoas são condicionadas a pensar sempre da mesma maneira. E cada uma de nós tem uma história incrível para contar.

5474.599
Ramayana
Se você conversar com uma outra menina que eu conheço, você vai falar a mesma coisa. Cara, que história incrível! Que pessoa legal, que bacana! Vamos nos ajudar, vamos criar essas conexões para a gente fazer a diferença no mundo, porque senão a gente não vai fazer. E eu não quero passar aqui sem deixar as coisas um pouquinho mais organizadas, porque passar tudo tão rápido... Ai, foi muito bom!

5497.09
mulheresimigrantes
Ela passa, e falando em passa rápido, nosso tempo passou super rápido, eu não acredito. E por mim, eu ficava mais tempo aqui. Ray, foi um prazer incrível. Você é uma pessoa maravilhosa, extremamente expansiva e acolhedora, mesmo aqui na câmera. Já me sinto aí do ladinho.

5515.93
Ramayana
Ah, mas a gente tá, a gente tá, ó. Estamos, estamos, estamos. Meu Deus, eu pensei sobre isso? Deixa eu ver.

5524.019
mulheresimigrantes
Agradeço muito a sua presença, mas então, antes de terminarmos, vamos para a nossa lupa cultural, que é aquele momento de indicação de trabalhos feitos ou protagonizados por mulheres. O que você tem para a gente?

5542.961
Ramayana
Olha, algo que me tocou bastante esses dias foi o podcast do Óbvios, mas acho que é muito óbvio, né, da Marcela Celibelli.

5555.333
mulheresimigrantes
Tem problema nenhum? Já indiquei eu mesma, inclusive várias vezes. Algum episódio específico? Cadê?

5560.811
Ramayana
Ah, e o último, que eu fiquei completamente apaixonada pela... Eu até mandei mensagem pra ela no WhatsApp, que eu falei, meu Deus, eu preciso falar com você.

5574.634
Ramayana
é Vanessa Lacerda, o último episódio do Obvious com a Vanessa Lacerda. Achei poderosíssimo, achei incrível, ela fala muito sobre acolhimento, disponibilidade, é algo que realmente a gente tem que estar atenta sobre isso, sobre a gente se acolher mesmo, sabe? Agora, indicação de livro. Eu estou lendo um livro

5586.527
mulheresimigrantes
Uhum.

5603.268
Ramayana
É skin, black skin, se eu não me engano. É maravilhoso, é sobre skincare. Deixa eu pegar, acho que ele tá por aqui. Aqui, ó. E eu estou amando. É da Dija Ayodele. Foi a indicação de uma amiga minha que mora em Londres.

5626.254
Ramayana
é maravilhoso, depois eu, se vocês quiserem ler, ele fala sobre, é um guia definitivo de skincare para peles pretas, assim, nossa, eu achei maravilhoso. E as fotos do livro, gente, são fotos lindas, assim, sabe, é de uma qualidade, olha que coisa mais maravilhosa.

5646.544
Ramayana
Não dá gosto de você ler um trabalho desse? Olha que coisa maravilhosa. Ela explicando sobre o VA, sobre o VB. E aí eu conheci ela pelo Instagram. Minha amiga me indicou o livro e eu falei com ela pelo Instagram. Que mulher sensacional, gente. Falei, Dija, você, assim, me abriu precedentes, me abriu ideias, portas, sabe? Eu achei, assim, sensacional, maravilhoso, super indico também. E de música,

5673.209
mulheresimigrantes
Nossa, bonito, viu?

5675.094
Ramayana
É lindo, é lindo. Eu falo, gente, é realmente a bíblia da pele preta. Olha que coisa mais linda. Olha que coisa mais maravilhosa. Eu fiquei encantada com o livro. E ela é linda também. Nossa, linda. Olha que linda. Mulher maravilhosa. Apaixonada estou.

5696.749
Ramayana
E também quero indicar um livro para mulheres pretas viajantes da Rebeca Latleia, não sei se você conhece, do Bittonga Travel, sabe quem é?

5705.463
mulheresimigrantes
Gente... Ai, sei quem é e tá super na minha lista também.

5709.974
Ramayana
Ah, ela é maravilhosa! Eu fui no lançamento do livro e foi uma experiência mágica. Eu tenho um carinho, um amor pela Rebecca imenso. Eu acho que ela é uma pessoa que faz parte dessa transformação. A gente troca muitas ideias, a gente conversa, a respeito sobre diversos assuntos. E falar que nós podemos viajar é maravilhoso.

5732.91
Ramayana
Quando a gente fala sobre mulheres negras, muitas vezes a gente não se coloca no lugar do que a pessoa passou. E só o fato da pessoa ter coragem de falar que ela quer viajar, não vai ser ridicularizada, você não pode... Eu acho maravilhoso. E criar esse projeto, ver as meninas viajando, eu acho maravilhoso. Eu acho a Rebeca incrível. Então, é isso. Acho que essas são as dicas.

5762.414
mulheresimigrantes
Eu ainda não escutei esse episódio do Bom Dia, Obvious. Eu adoro o podcast, só que eu passo por algumas fases de que vai bater num lugar que eu ainda não tô muito pronta pra entrar. Tô precisando de um negócio leve aqui.

5769.872
Ramayana
Não? Ah, é. É. Não, eu também sou super a favor.

5788.229
mulheresimigrantes
ou escutar histórias, mesmo que fortes, mas que não são da minha realidade, então não vai bater num lugar de autoconhecimento ali, que é uma caixinha que eu não estou pronta para abrir. E aí, com esse título de se acolher para depois se libertar, me pegou e eu falei, agora não, não estou pronta.

5801.408
Ramayana
Então cuidado com esse, que esse foi bem profundo. É isso, mas acho que eu estou passando por esse processo de conhecimento, de autocura.

5820.93
Ramayana
autocuidado, realmente um cuidado, eu estou tendo cuidado com as minhas relações, eu estou tendo cuidado com as minhas percepções, entrando num lugar de não julgamento, e isso está me fazendo muito bem. E aí eu vi esse podcast, e eu estava procurando uma terapeuta, eu falei, gente, eu preciso de uma terapeuta, e eu achei ela fantástica, falei, nossa, uma conexão de almas, mas ela está de férias, ela só volta a atender dia 22, espero que ela me atenda.

5850.503
mulheresimigrantes
Eu tenho uma indicação apenas.

5854.974
Ramayana
Ah, era uma? Eu dei um monte.

5855.657
mulheresimigrantes
Não, às vezes eu tenho várias, hoje eu só tenho uma. E é um filme que eu assisti talvez na Apple TV, mas se eu não me engano também tem na Prime, chama Vidas Passadas, em português. É um filme de uma família imigrante que sai da Coreia do Sul e vai para os Estados Unidos.

5882.858
mulheresimigrantes
A menina tem 12 anos e na época ela tem um amigo/um flerte e ser namoradinhos ali, né? E ela migra para os Estados Unidos, nunca mais volta para Coreia do Sul. Ela fica muito nessa coisa de, entre aspas, ser americana.

5903.217
Ramayana
E é isso aí.

5908.114
mulheresimigrantes
Tanto é que ela só fala coreano com a mãe e, depois de muitos anos, esse grande amigo dela se reencontra online, eles começam a se reconectar. E aí, para mim, o que pegou muito foi um, ver essa parte da imigração com as crianças e como

5935.811
mulheresimigrantes
A gente tem o poder de manter vivo, ou não, a cultura de onde a gente veio. E essa coisa de perder a língua, principalmente para manter o contato com a família,

5940.179
Ramayana
Obrigado.

5952.79
mulheresimigrantes
de origem, então avós, primos e tal, é muito triste quando se perde isso. E também, outro ponto que me pegou foi as percepções que nós temos, as idealizações e até as memórias que a gente tem das pessoas que fizeram parte do nosso passado.

5975.503
mulheresimigrantes
Por exemplo, eles se reencontraram já quando tinha 24 anos. Só que a gente ainda tem na nossa memória as coisas que a gente sentia e que viveu com a criança de 12 anos. E aquela idealização que tantas pessoas têm de nós, dos que foram, e que a gente tem daqueles que ficaram. Então, essa coisa dos relacionamentos entre

5988.49
Ramayana
do passado. É, exatamente.

6005.657
mulheresimigrantes
os mundos que foram separados, eu achei muito interessante. É filme romântico e tal, não tem muita problematização de nada, de xenofobia ou nada, mas assim, nessa coisa do história de amor, que não é muito o meu gênero preferido de filmes, para ser bem sincera, mas estava ali no tema imigração e de vez em quando

6021.135
Ramayana
Muito obrigado.

6030.964
mulheresimigrantes
a que casa a gente gosta de colocar alguma coisa para assistir leve. Não quero pensar, quero só dar risada ou só... E colocamos aí para assistir. Meu marido tinha visto uma review de um youtuber falando dos Top X, acho que era 10 filmes.

6053.353
mulheresimigrantes
de 2023 e esse tava lá e a gente viu a sinopse ali do cara, achei interessante, mais levinho, vamos assistir. Então gostei, super recomendo. Vidas passadas.

6062.91
Ramayana
Já anotei.

6065.418
Ramayana
Já anotei, porque eu estou nessa fase, eu quero coisa leve, não quero ficar pensando o tempo todo, sabe? Ah, eu estou cansada de mostrar que eu sou inteligente, é muito pensativo, gente. Ah, e você tem que falar toda a literatura que você leu, ou com quem você teve ala, ou o que você faz o tempo todo. É muito difícil, acho que chega um momento da vida, principalmente agora, eu não preciso mais provar nada para ninguém, sabe?

6094.531
Ramayana
E aí eu acho que vale a pena a gente ter esses momentos de leveza, sabe? Em família, vou assistir um filme da Disney esse final de semana e está tudo bem, sabe? Não preciso ficar o tempo todo buscando mais um intelecto ou achando que eu preciso me preparar melhor para um trabalho ou para algo que aconteça ou que surja. A vida vai se encaminhando conforme.

6119.726
mulheresimigrantes
Hi, última pergunta. Onde as pessoas te encontram? Onde você está nas redes? Quem quiser mandar jobs?

6126.203
Ramayana
Ai, meu Deus! Manda, Jobis, manda tudo. Ai, gente. Mas eu gosto muito de conversar. Eu adoro conversar com outras mulheres que emigraram também. Eu acho que isso me enriquece muito. Amei, em primeiro lugar, estar aqui com você hoje. Muito, muito obrigada, Bárbara. Eu adorei. Adorei o projeto, achei fantástico, acho sensacional.

6151.422
Ramayana
a forma que você abordou todas nós, de uma delicadeza, de uma finesse absurda. Muito, muito obrigada, viu? De verdade, um trabalho incrível. E eu tô no Instagram, é a rede que eu mais uso, adoro o Instagram, eu sei que tem várias pessoas que estão chegando por lá agora, quer dizer, não brasileiros, brasileiros tem muitos.

6173.985
Ramayana
Mas me sigam no Instagram. Todas as dicas vão ser bem-vindas. Eu tento sempre trazer informações. Eu quero, esse ano, realmente pensar numa forma de expandir e ajudar outras pessoas também. Acho que ficar no beabá ali, para mim, não dá muito certo. Então, me sigam! Vamos fazer, amigos!

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Coloca o seu arroba.

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Como é que é o meu arroba? Ramiana Florentino Underline, eu acho que é isso. Ou se você digitar, Brazileira na Polônia. Acho que já aparece. Brazileira na Polônia. É isso.

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Deixaremos, gente, todas as arrobas, indicações, tudo ali na descrição do nosso episódio. Ai, muito obrigada. Agradeço também ao marido por ter ficado aí sentadinho, com gelo na perna, cuidando da cachorrinha que latiu uma única vez. Gente, vocês sabem que o Alaska já fez coisa muito pior, então...

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Ramayana
Ela tá bem quietinha, já tá tarde aqui. Ai, que linda.

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Meu agradecimento a toda a família por te emprestar pra gente nessa sexta-feira à noite. Muito obrigada, viu? Eu amei. E quem sabe aí numa viagem para a Europa, numa próxima, eu dou um rolezinho aí pelos lugares menos convencionais de se visitar.

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Ramayana
Ah, venha, vai ser muito bem-vinda. Eu acho que a Polônia está se tornando um lugar convencional, porque é muito bonito. Eu sou completamente apaixonada por Guidães, que eu acho que é uma das cidades mais lindas do mundo. Além da beleza natural, a gente tem toda a parte histórica, o centro histórico está fantástico, está novinho, a gente está reformando o rio também, então vai ficar mais bonito ainda.

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Ramayana
E eu falo que você vem para uma cidade, você ganha três de brinde e mais um castelo. Então você vem para a Guidância, conhece Idinia Sopa de Malbork. Tudo num pacote só. Então assim, prepara pelo menos uns cinco, seis dias por aqui. Você tem que passar, entendeu? Porque é muita coisa, gente. É muita atividade, é muita coisa. Se tiver mais tempo, ainda tem Taurum. E se tiver, meu amor, você vai ficando por aqui, tem muita coisa. Aí eu gosto muito. E aí eu recebo vocês aqui, você, seus cachorrinhos, todo mundo. Sempre tem espaço aqui.

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Arrasou. Muito obrigada pela sua presença. Obrigada também para quem nos escutou até agora. Vão lá também no nosso Instagram nos seguir. E um beijo e até o próximo episódio.

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Ramayana
Tchau!