Mulheres Imigrantes

#77 - Ancestralidade com Tania Sayri

March 02, 2024 Mulheres Imigrantes Season 4 Episode 77
Mulheres Imigrantes
#77 - Ancestralidade com Tania Sayri
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Show Notes Transcript

No episódio de hoje, a entrevistada é Tania Sayri, @taniasayri, natural de La Paz/Bolívia, atualmente imigrante em São Paulo, Brasil. Uma conversa Sobre como a imigrante boliviana construiu sua identidade baseada em várias culturas, sendo a indígena uma delas. 

Tania falou sobre como exploração da mão de obra imigrante não é olhada criteriosamente por governantes, pois existe um problema estrutural que fortalece essa cadeia de exploração em países que se aproveitam de um sistema de justiça falho para usar pessoas, e tirar vantagem financeira. A artista contou sobre a dificuldade que teve em se adaptar à língua portuguesa, e como a falta de comunicação foi um fator para ela ficar mais reclusa durante os primeiros anos da escola. 

Uma conversa sobre o processo de entendimento da cultura indígena, e a estereotipação da figura indígena vinculada como a miscigenação racial, foi um elemento categórico para que ela tivesse uma identificação tardia com sua cultura.

Esse episódio foi patrocinado por Tagarela Migration, uma agência de confiança em processos de imigração para a Austrália, sigam no instagram @tagarela_aus

Lupa Cultural:

Cholitas da Babilônia, coletivo artístico polítco - @cholitasdababilonia_

Espejismo, colagem manual, @_espejismo_

Carolina Velasquez CHACAL, artista plástica, @carolina_velasquez

Jade Puente, criadora de conteúdo, @jadxxp

Ana Tijoux, cantora chilena, @anatijoux

Brisa Flow, cantora, produtora musical, performer e pesquisadora, @brisaflow

Katumirim, cantora, @katumirim

Kantupac, moda e música, @kantupac

Aline Rochedo Pachamama, escritora e ilustradora - @alinerochedopachamama

Pretas Podem, podcast de Jaqueline Nascimento - @jaquelinenascim

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Este podcast é uma produção independente, realizado e idealizado por Barbara dos Santos

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Olá, mulheres imigrantes! Eu sou Barbara dos Santos, paulistana da Zona Leste e imigrante em Gold Coast, Australia, há 17 anos. Eu gostaria de começar essa gravação reconhecendo os povos Kombumeri, os guardiões tradicionais da terra de onde estou. Respeitamos sua longa história, ancestralidade e cultura.

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Desejamos nossa homenagem aos anciões do passado, presente e emergentes, pois carregam as memórias e tradições de tempos passados, estendo também esse reconhecimento para as terras onde nossa convidada se encontra hoje e todas as nossas ouvintes. Esse episódio é especial de Dia das Mulheres.

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E quando eu escrevi essa pauta, eu estava num momento muito estressante, com um homem, e iria ser extremamente desafiador eu gravar esse episódio. Ainda bem que não deu certo pra ser gravado quando ia acontecer.

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E essa parte de falar sobre a homenagem ao Dia das Mulheres e após alguns acontecimentos recentes, tanto no pessoal quanto coisas que eu tinha visto nas redes sociais, umas duas semanas e meia atrás de quando eu estou gravando esse episódio,

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me fez ter o sentimento de que ser uma mulher desperta numa sociedade misógena, racista, patriarcal, é extremamente cansativo. E inúmeras vezes nos sentimos até derrotadas com aquele sentimento de "eu vou comemorar o quê nessa data?".

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Às vezes aquele sentimento de a ignorância é uma bênção e estar atenta às atitudes e falas machistas é desgastante e haja terapia para a gente lidar com tudo isso. Mas hoje eu estou um pouco melhor. Então eu queria que esse sentimento de conquista e comemoração do tanto que a gente já conseguiu atingir

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absorpa assim passe né seja maior do que esse sentimento de caramba ainda há muita luta porque sim ainda há muita luta e que a gente não tenha

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essa consciência de que as conquistas que nós temos nunca serão revogadas, porque infelizmente a gente continua batalhando para que nossos direitos sejam mantidos. Então, que a gente consiga.

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Não apenas conquistar mais espaço e direitos, mas sim mantê-los e através das nossas conexões que a gente faz com mulheres incríveis. Então, um feliz Dia das Mulheres para vocês. E vamos agora, chega de falar e vamos falar com a nossa convidada, que a convidada deste episódio é natural de La Paz, Bolívia.

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apaixonada por cores, processo artístico de criação e leitura, graduando em artes visuais e pesquisadora por profissão e ativista nas horas vagas, Tania Sayri. Seja muito bem-vinda e, por favor, se apresente melhor as nossas ouvintes. Quem é a Tania na fila da cultura?

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Tania Sayri
Olá, estou muito feliz de poder estar compartilhando um pouquinho da minha vivência enquanto imigrante, enquanto mulher também. Eu queria muito agradecer ao convite das mulheres imigrantes por esse espaço e também falar um pouco de enquanto mulher a gente tem muita dificuldade no caminho.

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Tania Sayri
E a gente... É muito difícil, assim, de... Do dia a dia, assim, né, lidar com essas microviolências que, às vezes, se tornam tantas que ficam, tipo, sendo macroviolência, sabe? Que se somam, assim. Então, acho que... A gente também... Acho que é uma coisa, assim, que fortalece, né? Essa caminhada, se encontrar com mulheres, se encontrar com outras mulheres, né? Criar essas redes, assim. E eu acho que isso também foi...

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Tania Sayri
No meu processo foi muito importante para mim, para conseguir me fortalecer, para conseguir ter uma certa valorização também das coisas que eu penso, da validação. Então isso é muito bonito entre a gente, que a gente possa estar se fortalecendo e se apoiando mutuamente.

847.005
Tania Sayri
Então, a Barbara me apresentou aqui, né? Eu sou Tania, eu tenho atualmente 27 anos, sou imigrante, né? Moro aqui no Brasil há 18 anos, esse ano vou fazer 19 também, muito tempo. Mas eu morei até meus 8 anos na cidade de Lato, em La Paz, na Bolívia.

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Tania Sayri
Aí meus pais, quando eu tinha em torno de 8 anos, decidiram emigrar para São Paulo, por conta do trabalho, tinha uma grande estabilidade política por lá também, então isso dificultava muito na parte do trabalho mesmo. Então foi um dos motivos que impulsionou meus pais emigrarem, buscar em outro lugar, em outra perspectiva

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Tania Sayri
um outro lugar de qualidade de vida, onde o país de origem não estava conseguindo me habilitar, então procura em outro lugar.

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Tania Sayri
E aí foi nesse momento que me vejo como um imigrante, mas entendo que esse processo de ser imigrante, essa parte também no Brasil tem muito essa parte da racialização, muito presente na parte da... Acho que não talvez no cotidiano, mas depois quando você vai entrar na parte de acompanhar as pautas, isso é muito frequente.

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Tania Sayri
E aí fui me entendendo também quanto uma mulher indígena, né, de origem aimara.

942.965
Tania Sayri
E aí, hoje em dia, eu me vejo enquanto uma pessoa que está ali, querendo somar junto com a comunidade. Também eu faço parte de um coletivo que se chama Cholitas da Babilônia, que é um coletivo político e artístico formado majoritariamente por mulheres. E a gente está ali também se fortalecendo, discutindo, trazendo coisas para a comunidade.

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Tania Sayri
que são pautas que atravessam a gente enquanto mulheres imigrantes indígenas que são fora desse território de origem que seria Bolívia mas como que está construindo isso aqui no Brasil em São Paulo. E eu não sei se eu me vejo com essa palavra de ativismo sabe eu tenho pensado ultimamente muito assim porque eu acho que

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Tania Sayri
Às vezes a palavra ativismo personifica a pessoa, como se a responsabilidade fosse daquela pessoa. Eu entendo que as coisas que eu faço em si, tem uma parte política e tudo mais, só que eu acho que

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Tania Sayri
Todos nós temos essa responsabilidade, né? Então, acho que quando a gente, talvez, usa as palavras ativismo, eu penso muito que a gente coloca a responsabilidade no outro, sabe? Sendo que a gente também é responsável, todos enquanto sociedade. Então, talvez, eu sempre fico meio assim com essa palavra, sabe? Entendo que esse funcionário político, essa forma de estar existindo é uma

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Tania Sayri
É uma construção também da minha identidade, das coisas que eu acredito, sabe? Acho que é um pouco disso.

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mulheresimigrantes
Lá atrás, quando você tinha 8 anos, você mencionou que seus pais, por conta de uma instabilidade que acontecia na região, foi o que levou uma das coisas que levaram vocês a sair da Bolívia. Como foi o processo para você como criança?

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participando dessa decisão da família. Teve algo, né? Como foi ali esse movimento familiar, então, que levaram vocês a saírem.

1086.374
Tania Sayri
Sim, então eu quando falaram sobre imigrar pro outro país e tudo mais, eu acho que eu tenho muito mão também, né? E aí naquela época a gente não tinha muita voz assim de dizer tipo não, não queremos ir com vocês, né?

1105.128
Tania Sayri
nossos pais estavam vindo para o Brasil e a gente tinha que vir, então acho que naquela época eu lembro que eu ficava pensando em ficar perto, em vez da minha mãe, do meu pai, então independentemente onde fosse, porque também os meus pais lá na Bolívia, eles são de comunidades, comunidades indígenas,

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Tania Sayri
E aí eles saem também, esse processo de imigração acontece já lá, então eles saem da comunidade em busca de uma qualidade de vida melhor, vai para a cidade, que aí seria a La Paz, é onde eles se encontram, com os pais. E aí de lá eles não encontram essa qualidade de vida, então saem também dessa cidade e vão para São Paulo, então de La Paz para São Paulo. E aqui eles constroem essa

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Tania Sayri
essa outra vida, buscando essa qualidade. Meus pais se separaram com o passar do tempo. Hoje em dia eu moro com a minha mãe e com o meu irmão. Tem algumas tias também que moram aqui em São Paulo, que seria a minha rede de família. Mas a maior parte está na Bolívia mesmo, meus tios, principalmente por parte de pai.

1183.234
Tania Sayri
E eu lembro que com o tempo fui entender porque que aconteceu essa movimentação da instabilidade política. Então meus países migram aqui. Um ano que eu migrei foi em 2006. Final de 2005 que eu lembro que o Evo Morales estava entrando para a presidência na Bolívia.

1206.34
Tania Sayri
E aí eu lembro que eu tava vindo pra São Paulo, eu lembro dessa cena, de passar tipo primeiro presidente de comunidade indígena assumindo o governo e aí todo mundo feliz, ter aquela euforia. Mas também lembro que enquanto a gente tava lá antes desse processo de acontecer, a Bolívia passou por um processo de estabilidade política em relação a privatização de recursos naturais. Então tinha o negócio do gás, e aí tipo era golpe atrás de golpe.

1236.288
Tania Sayri
trocava de presidente, então essas coisas acho que também acabam afetando nessa questão de poder, dessa instabilidade, então ter trabalho, então tá tudo muito inseguro, mas eu fui entender isso muito mais velho, quando eu era criança eu não entendia muito disso não, era muito tipo, tô só existindo mesmo, entendi muito sobre isso.

1266.152
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Só vou pra onde me levarem e é isso.

1269.553
Tania Sayri
É, eu acho que uma coisa que uma amiga fala, né? Que a Nátaly, ela fala muito assim, tipo... Não me perguntaram a mim, né? Enquanto criança... Eu não decidi ser imigrante, né? Tipo, eu acabei me tornando, assim, né? Então, foi uma coisa que foi decidida por mim, assim, né? Acho que quando a gente é pessoa já mais adulta, né? A gente decide, né? Ah, eu quero emigrar, quero ir pra tal país.

1297.824
Tania Sayri
Quando criança não, você só tá sendo levado assim, né? Tem que fazer isso.

1307.022
mulheresimigrantes
E seus pais já... Como foi esse processo de escolha do país e cidade para qual vocês iriam? Já, você sabe, um pouco depois de mais velha houve essa conversa. Como foi, já teve conversa em família para... Ah, vamos para o Brasil, mas para que cidade vamos?

1330.358
Tania Sayri
Eu acho que na época tinha muito fluxo migratora da Bolívia, principalmente para o Brasil e para a Argentina, e para o setor de costura, que é texil, essa mão de obra muito procurada, então muito se migravam. Eu lembro que eu já conversei um pouquinho isso com a minha mãe, com meu pai não tanto, mas com a minha mãe,

1356.084
Tania Sayri
E aí foi mais essa oferta de trabalho mesmo. Vai te dar uma remuneração boa nessa área da costura. Você vai estar conseguindo ter uma qualidade de vida melhor e tudo mais. Só que ao mesmo tempo tem suas contradições. Que às vezes você nessa parte de trazer nas pessoas não é tudo isso. Então a gente enquanto imigrante principalmente eu acho que

1383.131
Tania Sayri
imigrantes que eu vejo no Brasil, da origem da Bolívia, da África, imigrantes mais socializados também. A gente não é um dos imigrantes desejados pelo Brasil, porque quando teve os imigrantes brancos, foi um contexto histórico do Brasil.

1405.811
Tania Sayri
Os imigrantes brancos aqui no Brasil, eles tiveram todo um auxílio de poder se estabelecer, conseguir um terreno, uma casa, trabalho, foi financiado pelo governo daqui, de lá. As pessoas japonesas amarelas também teve esse processo, uma política pública mesmo nessa imigração. E a nossa imigração acaba, a gente vê que ela não é desejada porque às vezes não tem muito dessas políticas.

1434.428
Tania Sayri
recentemente está tendo, mas não é como se fosse uma preocupação mesmo, né? Que é diferente da imigração que teve, da imigração europeia, que era outro processo de embranquecimento da população brasileira. Tinha um projeto mesmo, né? Por isso que dá importância. Então acho que aí acaba sendo meio que isso. Aí meus países migraram nesse lugar de oferta de emprego mesmo que estava tendo, né?

1464.241
Tania Sayri
E aí ficou um tempo trabalhando para os outros na costura, assim, e aí conseguiram abrir sua oficina de costura também. A minha mãe atualmente ela é costurera, ela trabalha com costura. Eu já trabalhei um pouquinho com ela também, assim, né, meu irmão também.

1480.282
Tania Sayri
Mas hoje em dia eu trabalho com pesquisa, né? Eu tô cursando artes visuais, não sei se eu comentei. Curso artes visuais na Unicamp. E eu tô já no quinto ano e eu tô quase me formando, assim, né? Então, esse processo também da costura faz parte um pouco, assim, da minha trajetória, assim, né? Cresci também na parte da oficina de costura, então sempre teve um pouco presente nesse lugar, assim.

1509.582
mulheresimigrantes
Então, é interessante você falar que os bolifivianos, algumas, na verdade todas, né, países do continente africano são imigrantes indesejados. Sim e não, né? Eles não são desejados por questão de

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mulheresimigrantes
não vai ter o embranquecimento da população e tal, mas eles são desejados no sentido de como o Brasil cresceu com essa cultura escravocrata, então são muito bem desejados para ainda continuar nesse lugar de semano de obra extremamente barata, quase

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em situação análoga à escravidão, quantos noticiários já não teve de descoberta, de oficinas de costura, de grandes lojas, marcas famosas, e tá ali. Houve algo

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mulheresimigrantes
desse gênero com a sua família ou pessoas do círculo de vocês que acabaram se encontrando em alguma situação de exploração?

1587.619
Tania Sayri
É, então, esse é um assunto bem... Eu acho que talvez minha fala não ficou tão clara, assim. Eu não quis dizer que atualmente essa imigração contemporânea africana ou boliviana, assim, ela não é desejada por não... talvez não é coisa política de enbranquecimento. Eu acho que são contextos históricos diferentes, né? Aí eu só estava trazendo esse contexto histórico da imigração branca que teve no Brasil. Eu acho que

1612.722
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Então, conecte-se.

1614.189
Tania Sayri
Sim, esse contexto agora contemporâneo dos imigrantes negros, da imigração boliviana, eu acho que não tem esse olhar, esse projeto de embarquecimento, mas também esse lugar de estar buscando outra perspectiva, outra qualidade de vida, sair por conta de, sei lá, ou às vezes refugiados.

1636.442
Tania Sayri
está acontecendo alguma coisa no estabelecimento político, enfim. E aí, sobre essa questão da exploração da mão de obra que às vezes se encontra em imigrantes, que se encontra na escravidão, da minha família assim, não teve, não que eu tenha ouvido assim. Eu lembro que meu pai, eu lembro que ele falou assim, no processo que ele imigrou no início,

1666.647
Tania Sayri
Ele se encontrou em alguma situação parecida, mas ele conseguiu, né? Na verdade, talvez não, porque ele na verdade, eu não sei muito bem. Porque ele falou que não pagava bem, né? Mas o que é o trabalho análogo extravido da untem? Vários falam como a gente identifica, né? Que a pessoa não pode sair, as pessoas pertencem aos documentos, ou não paga, ou tem ameaça,

1695.435
Tania Sayri
tem vários critérios para caracterizar aquilo. E eu acho que tem uma coisa também que eu vejo, que quando se coloca em relação às oficinas de costura, tem um senso comum de achar que as pessoas que têm oficinas de costura estão ali nessa situação de talvez estar fortalecendo esse lugar da exploração da mão de obra. Só que muitas vezes eu acho que não se olha muito

1725.429
Tania Sayri
um olhar mais criterioso, assim, de olhar que, às vezes, não são... O problema não é oficina de costura, sabe? O problema é muito, tipo, estrutural, assim, é todo o sistema de confecções textes que existe aqui no Brasil. Então, desde que...

1741.323
Tania Sayri
manda para a oficina de costura as roupas, o custo, o barateamento das peças. Então, ela não se resume muito na oficina de costura, sempre. Quando, às vezes, sai no noticiário e fala, ah, boliviana na oficina de costura. Aí, tipo, sabe, foca muito nas pessoas que estão na oficina, que é uma parte dessa estrutura da confecção, né, têxtil.

1765.162
Tania Sayri
E que, na verdade, além desse lugar, tem outras pessoas, na verdade, que fortalecem essa exploração. E, às vezes, que são, de repente, o principal para outras pessoas não conseguirem ter uma, sei lá, outra qualidade de vida mesmo. Porque o que eu vejo muito das pessoas que trabalham em oficina de costura

1788.08
Tania Sayri
Tem que trabalhar mais de oito horas por dia, porque a prenda é pouca, né? Então, o preço por roupa, tipo, é muito barato do que tem que ser, né? E aí, quem tá ganhando, mas não é oficina de costura, às vezes é o dono que tá acima, assim. As oficinas são terceirizadas, né, na maior parte. Então, acho que tem que ter, não sei, acho que tem que ter uma fiscalização melhor sobre isso, mas não só na oficina, não sei resumir naquilo, assim, sabe?

1817.807
Tania Sayri
E eu entendo também que às vezes existe parte da própria, dentro da oficina, que tem gente que

1828.08
Tania Sayri
acaba explorando os seus conterrâneos desse jeito, tipo, nessas situações também não dá pra falar, tipo, não, a gente não se explora, acontece, mas também é tudo por conta dessa questão, tipo, do sistema capitalista, assim, né? Que, tipo, não é como se fosse... Eu acho que é um problema muito estrutural, assim, sabe? Não é uma coisa, tipo, dali, assim.

1854.155
Tania Sayri
Eu acho que isso tem que ser bem entendido assim, porque também teve uma outra vez que teve uma exposição ali no Bom Retiro, né, no Vassal de Andrade.

1865.538
Tania Sayri
que era chamar a oficina do suor, e aí trazer esse recorte de pessoas que estavam análogos à escravidão, de uma oficina de costura, de pessoas bolivianas. E aí fizeram toda essa exposição, assim, com fotografias, rigidos fotográficos, claro que tampando o rosto das pessoas. Só que eu acho que o problema é quando você

1892.21
Tania Sayri
recorta só ali, sabe, não discute todo esse, esse todo, assim, essa estrutura, né. E aí foi uma coisa, inclusive, que o coletivo da Teoria da Babilônia se posicionou, fez um, fez uma roda de conversa lá no Oswald, com as pessoas da comunidade boliviana, assim, falando, tipo, como que a gente se sente em relação a isso, como que seria, se fosse debater aquilo, como que seria melhor essa discussão, né.

1920.452
Tania Sayri
sem ser tipo a nossa exposição, sabe? Então, acho que é um pouco disso também. E também acho que as pessoas, além bolivianas da parte da costura, eu falo isso assim, tipo agora são os bolivianos, né? Mas também essa parte da oficina da costura em si, ela vai se mudando assim, sabe? A mão de obra, então agora os bolivianos, mas daqui

1944.701
Tania Sayri
pode ser outros imigrantes que estão em situação de vulnerabilidade. Antes dos bolivianos eram outros imigrantes.

1956.395
Tania Sayri
essa prática da costura tivesse trazido a Bolívia, né, é uma coisa que existe aqui no Brasil, essa exploração da mão de obra vulnerável, né, tanto de imigrantes, a gente vê também essa exploração de mão de obra, assim, lá no Nordeste, então tiver um problema social do Brasil, assim, né, então a gente tem que, acho que trazer isso claro também.

1982.722
mulheresimigrantes
E como foi ser uma criança que provavelmente ainda não falava português, chegando aos seus oito anos de idade, indo para a escola e, de certa forma, meio que transitando entre esses dois mundos, entre ser boliviana, entre grandes aspas, em casa, com a sua linguagem, cultura, comida,

1983.404
Tania Sayri
Uhum.

2012.312
mulheresimigrantes
e aí tentando se inserir de alguma forma dentro da cultura brasileira, os seus anos formativos ali, então 8, 9, 10 anos, e como foi o aprendizado de português, como foi o seu recebimento e possível acolhimento da comunidade escolar também.

2036.142
Tania Sayri
Então eu lembro que quando a gente imigrou em São Paulo a gente morava perto do centro, então ali na região do Brás a gente ficou uns

2047.585
Tania Sayri
quatro meses, são cinco meses. E ali no centro é muito comum as escolas terem muitos imigrantes. E eu estudava em uma escola estadual. Então lá tinha bastante filhos bolivianos. Então lembro quando entrei, essa parte do acolhimento foi muito imediata. Eu não falava nada de português, meus pais também não falavam, nem meu irmão.

2074.787
Tania Sayri
E aí eu lembro que quando eu entrei na aula, eu lembro dessa sensação de não entender nada do que estava sendo dito. Por mais que o pessoal fale assim, não, o espanhol e o português são muito próximos. Eu falo, não é próximo. Não é tão próximo. E aí meus pais também não tinham muitos recursos financeiros para me colocar numa escola de idiomas, para poder estar aprendendo português. Então foi um aprendizado muito no cotidiano.

2105.009
Tania Sayri
E eu lembro que, nesses cinco meses, quem fazia essa mediação entre minha comunicação entre professor ou alunos que falavam só português eram os meus colegas ou amigos que eu tinha naquela época que sabiam português e espanhol, né? E perguntavam, falavam, o pessoal traduzia, assim, sabe? Foi muito legal. Aí, depois, a gente mudou, né? Saiu do centro para a periferia.

2133.336
Tania Sayri
Lá mais pra Zona Norte, assim. E aí eu lembro daquela época não tinha muitos bolivianos, também não era um lugar de muitos imigrantes, assim, né? Nessa região das periferias. E aí eu lembro que na minha escola, nessa escola que eu mudei, assim, tinha, sei lá, na escola toda tinha uns três bolivianos, sabe? E eu era uma deles. E aí foi mais difícil, porque já não tinha muitas pessoas pra fazer essa mediação, né? Então, eu lembro que

2163.285
Tania Sayri
Nunca fui uma criança, eu não sou uma pessoa tímida, eu sempre fui uma pessoa muito extrovertida, de me comunicar bastante, inclusive quando eu estava na Bolívia eu adorava fazer as coisas. E aí quando eu cheguei aqui eu senti que eu me vi uma criança muito reclusa, mas por conta do idioma, da comunicação, era uma coisa muito difícil.

2185.35
Tania Sayri
Então, e as crianças, às vezes, elas são meio, né, tem o seu lado, assim, aí eu falava uma coisa errada, aí a pessoa já zoava, era no portunhol, então era muito, assim, muito difícil, assim, né, no início. E eu também sofri um pouquinho, assim, de discriminação, né, dessa parte da, acho que também da, de não poder falar, enfim, e a pessoa se aproveitava um pouco, assim,

2212.739
Tania Sayri
Mas eu acho que com o tempo eu fui aprendendo, assim, lidar com isso e também a entender o idioma melhor e a aprender mesmo. E aí eu lembro que no primeiro ano, na oitava série, no primeiro colegio, assim, já era uma pessoa, voltei a ser essa pessoa extrovertida de querer, né, fazer as coisas e já, tipo, consegui me comunicar mesmo, então.

2237.363
Tania Sayri
Eu acho que foi um período um pouco difícil, mas também teve seus momentos bons. Acho que foi um pouco disso.

2250.162
mulheresimigrantes
E como que você mantém a cultura indígena e boliviana vivendo em um mundo que é totalmente eurocentrado, ainda mais aí no Brasil, que tem esse grande preconceito com povos originários e uma ideia de que essa população não pode ter celular, televisão, morar num centro urbano que tem essa

2273.029
Tania Sayri
Estereotipada.

2276.886
mulheresimigrantes
Quase que imagem... Nossa, gente, eu esqueci a palavra. Essa palavra, obrigado. Gente, é bem no...

2292.619
mulheresimigrantes
Palavras erradas aqui que é só para vocês verem. É o índio pelado ou no máximo com uma roupinha, tapando um negócio ali de coco, com cocar, morando numa oca, numa aldeia. É essa a visão. Qualquer coisa fora disso já não pode mais. E aí, como que você se encontra no mundo?

2319.787
mulheresimigrantes
e talvez até tentando quebrar esses paradigmas.

2328.619
Tania Sayri
Então, eu fui me entendendo enquanto uma mulher indígena muito tarde, não tarde, mas foi um processo.

2339.445
Tania Sayri
Porque eu acho que na Bolívia a maior parte da população é indígena e tudo mais. Nos pais são de comunidades também. Só que eu sinto que a palavra indígena, ela ainda é muito talvez acadêmica, talvez foi mais popularizada recentemente.

2360.026
Tania Sayri
E porque como ela vem da palavra também que é índio, índia, indígena, é claro que indígena tem uma forma mais respeituosa de se referir aos povos originários. Mas ainda lembro que tinha um certo receio, sabe, por parte inclusive da minha mãe. Quando eu passei por esse processo de me entender como indígena, eu conversava muito com ela. Foi um processo muito bonito também, que fortaleceu nós duas.

2389.974
Tania Sayri
Porque até então, um tempo atrás, eu me entendia como uma pessoa parda, né? Porque a minha mãe também se entendia enquanto mestiza, né? Ela não assumia esse lugar tipo de, ah, eu sou indígena e tal. O meu pai, ele já trazia um pouco disso, assim, eu lembro que ele...

2408.387
Tania Sayri
Lembro que às vezes ele comprava uns DVDs sobre os conhecimentos indígenas, sabe, dos mexicas, das pecas. Ele tinha uma coisa assim e ele também tava mais, talvez, mais presente com isso, só que ele não trazia muito diretamente pra gente, assim, era muito indireto, sabe? A gente também não parava pra conversar sobre isso, assim.

2432.654
Tania Sayri
E aí eu lembro que conhecendo assim, nessa minha trajetória assim, eu fui num coletivo das Warms Immigrantes, que é equipe de base Warms Immigrantes Convergentes das Culturas, que é um coletivo de mulheres imigrantes na cidade de São Paulo, de várias nacionalidades, e lá tinha duas pessoas indígenas, mulheres indígenas,

2459.855
Tania Sayri
Porque elas se afirmavam na cidade enquanto mulheres indígenas. Aí eu ficava tipo, nossa, elas são tão parecidas comigo, sabe? E elas se autofirmam. Será que eu posso também? E esse poder vinha muito desse lugar dos preconceitos que tem em relação aos corpos indígenas. Porque, como você relatou, quando a gente pensa indígena,

2482.142
Tania Sayri
Se pensa, tipo, é um indígena que está no território, na comunidade, se vê de tal forma, é ligado muito nesse lugar, da prática, assim, assim, assim. Essa imagem que a gente, esse estereótipo que a gente tem na cabeça. E também quando eu estava na escola, tinha o Dia do Índio, que hoje é o Dia dos Povos Indígenas, acho que Povos Indígenas originários, que foi mudado o nome recentemente.

2507.824
Tania Sayri
E aí era todo também um certo estereótipo que o pessoal trazia, então era uma criança com uma tanga e um cocá com penas. E aí eu vi aquela imagem e a gente fazia aquelas também, não sei se eu lembro se eu fiz, mas se eu lembro que se desenha em algum momento que eu vi.

2525.265
Tania Sayri
E aí eu agava pra aquilo e falava, não é possível, não me parece assim, né? Não tenho essa relação. E aí com o tempo fui entender o porquê, né? E os costumes andinos são muito diferentes dos costumes também das regiões tropicais, assim, né? Então a gente tem muito tecido andino, tem outra relação, a natureza é diferente, enfim.

2550.538
Tania Sayri
E aí eu fui meio que entendendo aos poucos sobre esse processo da identidade indígena. E aí hoje em dia quando me afirmam assim, eu sou uma mulher indígena e tal, a Imara. Eu acho que o pessoal nem questiona talvez tanto, porque eu tenho um fenótipo muito forte, tendo o estereótipo indígena.

2576.015
Tania Sayri
Então cabelo liso, pele mais morena, não sei, olhos puxados. Tem gente que fala, às vezes me confunde com asiática, com amarela. Porque às vezes eu transito por lugares que talvez não se pense que uma indígena estaria transitando, associa a outro lugar. Talvez seja uma possibilidade.

2603.797
Tania Sayri
E aí eu falei, não, eu sou indígena. Aí o pessoal falou, ah, tá. Então, acho que não questiona tanto. Tem algumas outras pessoas assim, né? Mas é bem... Sei lá, eu acho que ele conseguiu lidar também com isso, com muita terapia, conseguiu lidar com as suas situações também.

2624.189
Tania Sayri
E foi um processo, inclusive um processo que envolveu outras mulheres. Quando eu falei do Coletivo das Teolitas da Babilônia, é um espaço muito legal. Eu me fortaleci bastante nesse lugar, a gente troca muitas experiências. Então foi muito importante para mim.

2648.473
Tania Sayri
Encontrar outras pessoas que estão nesse processo que a gente fala de retomada, de retomada dessa identidade, porque ela nunca foi tão clara assim, que não era criança e eu sabia que era indígena. Foi um processo que eu fui recuperando e hoje em dia a relação à espiritualidade

2668.302
Tania Sayri
processo que eu vou aprendendo também no dia a dia, assim, né, de me aproximar da minha cultura, de entender mais sobre a cosmovisão andina. E esse processo também que nem se falou, ah, como é viver, né, no Brasil, né, pensando nisso, sendo que se pensa dessa forma. E hoje em dia a gente tem pensado muito de fazer esse contato com os parentes brasileiros, né, porque quando eu vi os parentes brasileiros, eles, muitas vezes eles já

2696.118
Tania Sayri
me acolhiam, assim, enquanto indígena, né? Então, e às vezes eu ficava pensando, nossa, será que a pessoa vai me acolher ou não? Eu ficava tipo com umas inseguranças minhas mesmo, sabe? E aí, não, era uma coisa mais minha do que... do que, sei lá, do que eu imaginava, assim. E aí, hoje em dia eu também tento entender as pautas do pessoal aqui do Brasil, assim, porque como eu sou uma indígena que tá no território brasileiro, eu acho importante também estar

2724.053
Tania Sayri
a tenta que está acontecendo dessas pautas de como fortalecer, de como a gente pode fortalecer. Então, eu fui para a TEL no ano passado, que é o acampamento Terra Libre, que é um lugar que acontece no mês de abril. E é uns cinco dias que vem muitos povos de vários lugares, se reúnem em Brasília. E aí tem trocas culturais, debates, pautas de cada região.

2751.766
Tania Sayri
e vão falar sobre políticas públicas e vão falar como se organizar. É uma vivência muito massa, ele é aberto também para pessoas não indígenas. Então fica o convite, esse ano vai rolar também. Se vocês procurarem no APIB oficial, está todas as informações por lá também.

2771.766
Tania Sayri
E é isso. Acho que os indígenas aqui no Brasil, eles estão sempre presentes. Acho que a gente que, na verdade, na cidade, a gente tende a entender que talvez está distante, mas até na cidade tem comunidades muito próximas. Então é uma coisa, eu acho que quando eu também falo da questão ativista, é uma coisa da gente

2794.595
Tania Sayri
se colocar no dia a dia, de também entender, ver, procurar, sabe? Eu acho que não tá tão distante quanto parece, sabe? Tem indígenas entre a gente, em vários lugares, em vários espaços. E eu acho que é isso, esses estereótipos que tem sobre o celular, não sei, são coisas que a gente vai desconstruindo nessa convivência mesmo, na escuta ativa também do outro.

2821.954
Tania Sayri
Enfim, acho que é isso. Sim.

2824.838
mulheresimigrantes
E aí você tocou um pouquinho nessa parte da arte. Eu queria entender um pouco, então, como que a arte surgiu na sua vida? Como você decidiu? Esse é o caminho que eu gostaria de escolher de formação acadêmica e de carreira e de vida? E como que é viver da sua arte no Brasil?

2849.633
Tania Sayri
É, então, eu lembro que eu já fiz um curso assim na minha vida de TI, fiz técnica de informática, assim, muito uma loucura. Sim.

2861.613
mulheresimigrantes
Por tudo a ver, né? Tudo isso, desmontar, montar computador, instalar internet, com... sei lá.

2872.995
Tania Sayri
E aí foi bom assim também, tinha um conhecimento. Mas eu acho que eu me vi na arte quando eu comecei a ter acesso na educação também, sabe? Que eu estudei em escola pública, né? E a gente sabe que escolas públicas aqui no Brasil, principalmente estaduais e da prefeitura, elas querem não ter um déficit assim, né? Tipo, elas não têm uma qualidade também boa, assim. E aí eu lembro que quando eu fui me preparar para o vestibular,

2900.452
Tania Sayri
E aí eu fiz cursos populares, então eu tive acesso à educação. E aí eu consegui entender também mais sobre mim, reflexionar o que eu queria, o que realmente me motivava. E aí eu lembro que os professores no curso tinham falado muito pra gente escolher um curso que

2925.742
Tania Sayri
que faça sentido para a gente, sabe? Que não seja, sei lá, por conta de uma questão de ascensão financeira, assim, sabe? Fazer curso para que paga melhor e tal. Mas uma coisa que motive a gente, né? E aí eu lembro que naquela época, assim, vendo meus professores também, eu queria ser professor de arte, assim, né?

2949.94
Tania Sayri
E eu já gostava muito de desenhar, de estar pintando. Acho que mais desenho, que era mais acessível para mim naquela época. E aí no cursinho eu fui mais tendo contato com a arte ocidental, que é essa arte tipo, sei lá, surrealismo, arte moderna. E aí começa a ver sobre a arte também aqui no Brasil, mas também nessa parte mais uma arte, acho que nesse recorte ocidental.

2979.514
Tania Sayri
E aí, eu fui me interessando. Eu falei, nossa, acho que dá pra pensar... Acho que comecei a me ver também quanto artista, da possibilidade de criar, de falar as coisas que eu quero, de expressar isso e ver essa possibilidade. E também com a possibilidade de ser professora e conseguir, não sei, de uma certa forma

3007.329
Tania Sayri
trazer coisas boas para os meus alunos, trazer reflexões da forma que os professores lá traziam para mim, que eram importantes, foram muito importantes na minha passagem também. E aí eu decidi encursar artes visuais.

3024.701
Tania Sayri
E aí eu tive mais contato com museus, né. Inclusive, eu lembro que antes eu achava que, sei lá, eu vi essas instituições, parecia muito que não podia entrar, que era muito caro, né, que tem uma barreira social, né, que a gente fala, assim, que na verdade tem dias que são gratuitos e tem dias que são mais baratos e isso a gente paga menos. E aí são coisas também que pra gente também da periferia, né, desses lugares que a gente vem não é tão claro, assim, também no edito, né.

3054.821
Tania Sayri
A gente vai meio que descobrindo com o tempo, às vezes com outros encontros, conexões, pessoas falam assim, ah não, dá pra ir, não é tão, não é isso não, e vai se informando assim, né. E aí fui conhecendo mais sobre essa arte ocidental, né, essa arte mais exercizada, assim.

3078.166
Tania Sayri
E aí comecei a entrar na universidade, comecei a ver mais isso também, só que eu ainda sentia esse vazio, porque ficava tipo, não, tô vendo isso, mas ainda falta uma coisa, sabe? E aí quando fui me entendendo mais enquanto mulher indígena, eu falei, nossa, mas a gente também tem uma arte, tem uma produção artística.

3101.203
Tania Sayri
dentro dos tecidos, dentro das pinturas, só que ela não é abordada dentro dessas academias tanto. E aí eu comecei a questionar, isso é importante, a arte ocidental é importante, sim, com certeza, mas ao mesmo tempo acho que com a realidade também do Brasil, dos povos originários que existem aqui, também tem que se dar uma importância a isso, não pode ser passada em

3129.855
Tania Sayri
duas, três aulas dentro do curso de artes visuais, sabe? Então tem que ter uma matéria que fale mais sobre isso, né? E de repente também, não sei, levar os alunos para as comunidades, ter esse contato direito de aproximar, né? Porque eu acho que é isso, a gente não tem, às vezes, não tem esse contato com as comunidades, a gente acha que os indígenas estão muito distantes, estão muito longe.

3157.517
Tania Sayri
E as vezes não, aqui em São Paulo tem o Pico de Jaraguá, sabe? O pessoal faz evento pra...

3164.292
Tania Sayri
No ano tem um evento ou dois eventos que eles sabem na comunidade para receber gente de fora. Então não é como se estivessem distantes. A gente está muito presente. Inclusive a comunidade boliviana mesmo aqui na cidade de São Paulo é muito grande enquanto imigração. E ela também traz essa parte da cultura boliviana. Também traz um pouco da sua cultura indígena originária. Tem o ano Novo Andino.

3191.937
Tania Sayri
Então, acho que é uma coisa da gente também estar buscando, procurando, né? E estar assumindo isso enquanto pessoa, assim. Não sei, eu acho que fala pouquinho, eu acesso muito, assim, você vai me cortando também, qualquer coisa.

3206.164
mulheresimigrantes
Não, a gente não corta não. Mas essa busca cansa? Ou nem isso, Tania? Escute isso como a pessoa mediana no Brasil. Eu não sei nem por onde começar. Onde que eu vou? Onde que essas pessoas estão? Como que eu faço para

3232.329
mulheresimigrantes
descobri-las e, mais ainda, como eu entrar nesse papel de tá? Eu não quero tokenizar, então não quero ter... Ah, tem até uma amiga indígena, gente. Não, como que eu posso ali buscar ativamente sobre

3256.51
mulheresimigrantes
onde vocês estão, tanto no papel de mulher imigrante quanto populações originárias. O que eu como cidadã mediana ali posso fazer e não entrar nesse lugar do

3276.152
mulheresimigrantes
do Branco Salvador? Ah, porque eu quero? Não, gente, eu só quero conhecer mais, porque eu sou completamente ignorante na pauta X. E, gente, quando vocês escutam isso, pode pensar também pessoas que não têm contato com populações negras, quilombolas ou até eu mesma aqui na Austrália. Eu não tenho contato com

3300.93
mulheresimigrantes
A população originária daqui, eu sei que tem pessoas da minha convivência aqui, ou do meu círculo de pessoas conhecidas, que estão um pouco mais inseridas nessa pauta. E dá um puta trabalho você buscar pessoas diferentes da gente. E, sabe, dá uma dica. E como que a gente ativamente faz esse movimento e que não fique

3330.469
mulheresimigrantes
de uma maneira entendida que a gente está buscando só porque eu quero ter, entre grandes aspas aqui, gente, só porque eu quero ter um amigo negro, um amigo imigrante, um amigo não sei o quê, gente, insira aqui qualquer coisa que seja diferente de você mesma. Você está realmente interessada em conhecer essas populações e pautas e quem sabe surgir uma amizade, mas eu não estou

3357.193
mulheresimigrantes
ali naquela posição de eu quero ter um amigo, sei lá o que. Seria legal, com certeza, ter pessoas diferentes de nós no nosso convívio, mas muitas vezes a gente não sabe nem por onde começar, como buscar.

3375.623
Tania Sayri
Então eu acho que a gente. Acho que entender quando falou essa questão da gente se colocar enquanto também uma pessoa cidadã responsável porque as pautas indígenas, as pautas imigrantes, as pautas qualquer pauta é um problema social que é nosso enquanto sociedade. Não é um problema só dos indígenas, não é um problema só dos imigrantes, não é um problema só dos negros.

3405.486
Tania Sayri
Então é nosso. Então a gente tem que estar se educando, buscar esse contato, essa educação, estar lendo. E também não chegar, tipo, uma pessoa indígena e achar que ela vai te ensinar, né? Porque às vezes as pessoas chegam nesse lugar, assim, tipo...

3423.063
Tania Sayri
Então me explica sobre isso, sabe? Às vezes a gente já tá cansado de lidar com as coisas do dia a dia e ainda explicar, sendo que tem muito material aí, tem muita gente fazendo, né? Tem livros, tem escritores indígenas, então procurar, né?

3439.94
Tania Sayri
é estar se educando através de tipo livros, tem filmes, tem séries, então tem tipo podcast também, então a informação tem né, então a gente também tem que se colocar ali com uma pessoa de querer também

3456.357
Tania Sayri
Acho que mudando a sociedade, de que é isso. Construindo uma sociedade melhor para todos nós. Projetar isso no futuro, ver uma sociedade que seja muito boa para todos.

3471.374
Tania Sayri
nesse lugar, eu sou uma pessoa muito esperançosa, né? E aí eu sempre penso nessa possibilidade, assim, acho que isso é uma coisa que me motiva muito. E aí é sobre essa questão de totinização, que você falou, totinização, de colocar a pessoa enquanto objeto e não enquanto um ser humano ali que tá tipo

3494.556
Tania Sayri
que realmente tá fazendo uma amizade ali, que tá tendo uma troca, assim, né, de você tá tendo um conhecimento, a pessoa também tá te dando, você tá errando, você também tá auto-terrando, então, tipo, tem uma relação ali mesmo, assim, não ser uma coisa, tipo, ah, eu tenho, como se fosse uma muleta, né.

3512.056
Tania Sayri
Eu sou tão desconstruída porque eu tenho tais pessoas no meu círculo. E eu acho que isso pode ser possível quando a gente se coloca, como eu falei, nesse lugar de responsável, de realmente estar comprometido a estar entendendo as pautas.

3530.708
Tania Sayri
está somando para a comunidade, está tipo... Quando você chega na comunidade, chega tipo, né, com mais, né, acho que com um certo... Não com olhar tipo, nossa, sabe, me ensina, me ensina. Sabe, tipo, de um olhar mais tipo, vamos, quero construir, como posso estar colaborando, assim, como posso fortalecer a luta indígena, como que eu posso, né, estar contribuindo, assim, ou tipo, de uma forma ativa, ou então, tem várias formas de contribuir, né, tipo,

3559.821
Tania Sayri
de realmente estar somando ali, organizando tal, sei lá, uma manifestação, não sei o quê, ou também se educando já é uma contribuição e tanto, porque se você é educando, você já tem outra forma de olhar para aquele problema social e você consegue também fazer reflexão na pessoa só ao seu redor, né? Então, isso já é um passo grande, assim, né, para mudar a sociedade, também para

3584.718
Tania Sayri
para estar contribuindo com as lutas, eu acho. Então, eu acho que buscar essa sinceridade mesmo e não talvez esse lugar de protagonista, tipo, eu sou desconstruído e talvez de vaidade, tipo, eu tenho tais pessoas, sabe? Não, lugar de estar querendo, sinceramente, construindo, de estar querendo se comprometer mesmo, acho que são dois

3614.838
Tania Sayri
dois modos diferentes e acho que é por aí talvez esse caminho.

3621.954
mulheresimigrantes
E consumir conteúdo também já seria uma forma. Aqui no podcast a gente tem essa coisa do consumir material protagonizado ou feitos por mulheres. Isso também já seria uma forma. O cérebro está acordando ainda. Consumir conteúdo

3650.623
mulheresimigrantes
Não importa aí. Então, compre a arte da Tania aí, gente. Compre livros, assistam filmes seriados, música...

3661.895
Tania Sayri
Eu acho também importante se você conseguir em algum território, alguma comunidade, vá e vá com esse respeito e trocar.

3674.94
Tania Sayri
porque a gente aprende mais na convivência, né? Não adianta também ir uma vez e achar que já sabe, foi lá e já sabe tudo, né? Não, tem que tá ali também constantemente uma construção, né? Porque a nossa mudança, ela não é uma coisa instantânea, ela é construída no dia a dia, né? E aí, uma coisa que eu esqueci de falar, que isso é importante, porque quando

3695.981
Tania Sayri
também vai pensar no momento de eleições políticas. Então pensar em representantes. Por exemplo, no Brasil a gente não tem, enquanto pessoas imigrantes, a gente não tem direito ao voto. Então a gente não consegue escolher nos representantes enquanto da prefeitura, presidente. Dentro da política, muitas políticas às vezes que nem pensam nos imigrantes tanto. Não tem um plano para os imigrantes.

3703.575
mulheresimigrantes
É incrível.

3724.565
Tania Sayri
Então a gente enquanto a gente estiver mais educado, saber mais das coisas, a gente consegue pensar, nossa, aquela pessoa está pensando em imigrâns, está pensando em pessoas negras, está pensando em povos indígenas, está pensando de uma forma mais democrática. Então talvez seja interessante meu voto para tal pessoa. Então acho que por isso que é importante esse lugar.

3750.247
mulheresimigrantes
Ótima pontuação. Falando em territórios, você e eu, a sua família, retornam com alguma frequência para o seu território de origem? Como se dá, como mantém essa relação com os familiares e amigos até que ficaram?

3775.589
Tania Sayri
Sim, então eu não consegui. A última vez que eu fui para Bolívia, eu fui em 2016 ou 2014. Acho que foi, numa das datas, foi dez anos atrás. Eu sei que esse ano vai fazer dez anos que eu não volto para Bolívia também. E aí, inclusive, é uma coisa que está me

3796.903
Tania Sayri
tá expulsando, assim, sabe? Preciso voltar pra Bolívia porque vai fazer uns 10 anos, eu não posso, né? Ficar tanto tempo assim. E aí teve vários fatores, assim, por eu não conseguir voltar, assim, né? Principalmente, eu acho que é questão financeira também, mas tem um momento que eu tava mais focada pra entrar na universidade, que foi todo um processo também pra mim, não foi tão fácil, assim.

3822.773
Tania Sayri
levou um tempo, e aí eu entrei na universidade, e aí teve o tempo também de conseguir me estabelecer ali, depois veio a pandemia, sabe? E aí, enfim, aí eu, esse ano eu tô com esse projeto pra conseguir viajar final do ano pra Bolívia, né? Mas a minha mãe, ela tem voltado com frequência, assim. A minha mãe, ela sempre que, nesses últimos anos,

3847.671
Tania Sayri
4, 5 anos ela tem voltado todo ano pra Bolívia. E aí ela voltando me traz também uma felicidade, porque ela consegue ainda manter esses vínculos com o território, com a cultura, com os familiares. E aí eu sei também que quando eu voltar pra lá, apesar do vínculo com os familiares não estar construído no dia a dia, eu sei que tem ali um carinho também.

3872.978
Tania Sayri
Então, espero que quando eu voltar assim, também seja recebida novamente assim, dessa forma que eu fui recebida no tempo atrás. E aí, às vezes eu fico pensando esse lugar de território, assim, né? E aqui em São Paulo, como eu falei, a comunidade boliviana é bem grande, né? E eu sinto que a gente também tá construindo esse território, assim, fora desse território de origem que é a Bolívia, né?

3900.469
Tania Sayri
Então, por exemplo, tem a Praça Cantuta, que funciona todos os domingos, que é um lugar, tipo, onde tem comida, tem produtos bolivianos, tem apresentações quando são dados com orativas de lá. E aí tem a Rua Coimbra, também, que é uma rua onde tem bastante restaurantes, tem, tipo, funciona todo dia, assim, tem produtos bolivianos, também tem eventos. E aí tem dados festivos também, durante o ano, assim, né? Então, uma comandante boliviana é bem ativa, assim,

3930.879
Tania Sayri
sempre faz coisas que acontecerem. E às vezes dá uma sensação que a gente também tá na Bolívia que no Brasil, sabe? Isso dá uma sensação. Porque quando a gente vai nesse evento, só tem gente pra gente também, muitos bolivianos principalmente, então a gente se vê ali. E aí isso é muito interessante de pensar também, talvez, não, acho que construindo esse território fora desse lugar.

3959.377
Tania Sayri
de origem, que seria a Bolívia esse território. E aí também eu, apesar de não ter voltado para a Bolívia, eu tenho morado ultimamente em Campinas, por conta da universidade, e aí eu conheci um quilombo urbano que chama Casa de Cultura Tainã, e aí eu tenho frequentado ele desde o ano passado, eu conheci ele por conta do meu companheiro,

3988.353
Tania Sayri
O Nicolas, ele falou, aí tem um território lá, um quilômetro urbano, seria interessante conhecer. E aí eu fiquei tipo, né, tá, então vamos. E aí, timidamente ali, né. E eu me senti muito bem, assim, lá, porque eu me senti bem recebida, assim, né, pelas pessoas também. E não me senti, assim, enquanto imigrante, assim, sabe? Eu acho que na cidade eu me sinto muito, assim, tipo,

4018.183
Tania Sayri
essa marcação social ficar muito forte. Ah não, eu estava só existindo enquanto uma pessoa indígena ali, fazendo parte do território, ajudando também o que podia, construindo junto, sonhando. E aí, o ano passado eu também tive a oportunidade de viajar

4038.166
Tania Sayri
pro Mato Grosso do Sul, a gente foi com o meu companheiro pra um território indígena que era o Cerrito e foi bem legal essa experiência, a gente foi num evento, assim. Então, apesar de não estar voltando pra Bolívia, eu acho que tô ainda nesse tipo, pensando em território fora de lá, assim, sabe? Tipo, como pensa o território aqui, assim.

4060.998
Tania Sayri
E aí eu, ultimamente, tenho muito desejo, assim, inclusive, depois de sair da faculdade, de me formar, né, penso muito em dar aula, ver a possibilidade de dar aula em territórios indígenas, assim, né, de ter essa experiência também, eu acho que seria muito legal, assim, fazer um projeto para o futuro, me compaginando com vocês, assim.

4083.37
mulheresimigrantes
E quais são os seus desafios em ser mulher, eu ou imigrante em São Paulo?

4091.63
Tania Sayri
Então, eu acho que essa questão de gênero é muito forte, já sofri também a sede. Enquanto imigrante, eu lembro que às vezes a sociedade, não sei, na cidade é muito violenta com o meu corpo.

4113.319
Tania Sayri
E às vezes eu, hoje em dia, eu penso talvez seja por conta dessa questão racial, assim, porque se fosse talvez uma mulher branca, né, de olhos azuis, talvez não seria esse tratamento, o tratamento seria diferente, sabe?

4126.903
Tania Sayri
Porque muitas vezes assim eu sozinha quando andava na rua tinha gente assim no meu bairro que eu nem conhecia. A pessoa que estava passando ali falava tipo volta para o seu país sabe. Quando eu era criança eu via isso muito com frequência sabe. Volta para o seu país. E às vezes eu ia com a minha mãe e saía com a minha mãe junto.

4148.039
Tania Sayri
adolescente, o criança gritava, ou... Deu uma vez que foi muito assim, nada a ver, que eu tava num ônibus, tava dentro do ônibus, e isso era acho que no centro da cidade de São Paulo. E aí o ônibus parou num ponto, né, num ponto assim, e aí tinha um cara do lado de fora, me olhou assim, e aí ele ficou tipo gritando comigo, assim, volta pra seu país com raiva, assim, sabe? Sem motivo nenhum, tipo, eu não tava nem, só tava existindo ali, meu corpo só tava existindo, né?

4175.674
Tania Sayri
E aí eu acho que são coisas que eu vivenciei. E hoje em dia eu não me vejo tanto vivenciando isso. Talvez porque eu estou mais em Campinas. Em Campinas não tem talvez o corpo, talvez imigrante não esteja tão presente. Talvez essas violências não estejam tão presentes. Eu acho que eu sinto isso. E aqui em São Paulo por ter bastante imigração, imigrantes bolivianos ou imigrantes em si. E acho que essa violência ela está mais presente.

4205.845
Tania Sayri
E eu acho que tem muito a ver com racismo mesmo, porque se fosse, como eu falei, uma mulher branca, talvez não teria esse tratamento igual, sabe? E aí em questão de gênero é isso, eu também já sofria sede, tipo, já, né? Ou às vezes também, sei lá, num lugar de apresentação, quando eu tô discutindo algumas coisas assim, a pessoa

4234.002
Tania Sayri
Achei que meu pensamento ali não é tão valioso. São coisas que a gente, enquanto mulher, tá no dia a dia lidando com isso. Haja terapia pra lidar com isso também. Eu lembro que, às vezes, quando não tava fazendo terapia, quando se acumulava essas microviolências que a gente vive no dia a dia,

4263.268
Tania Sayri
Ela se tornava uma coisa muito tão grande, que eu só tipo... Parava um dia e chorava, que ela falava tudo. E aí voltava, sabe? Que é isso, não tem que lidar. E aí quando pode, reage, mas às vezes é melhor nem reagir, por conta da nossa segurança mesmo. Tem situações que a gente se vê mais em vulnerabilidade.

4291.971
Tania Sayri
Mas eu acho que também tenho buscado estratégias de me proteger, como eu posso estar me protegendo, evitar, sei lá, tais situações, não sei, ou tais discussões, enfim. Acho que é um pouco disso.

4312.346
mulheresimigrantes
E que triste isso, né? Que a gente, como mulher, às vezes em maiores ou menores graus, não importa o lugar do mundo, a gente passa por essas situações. E aí a gente tem que ter essas conversas com nossas amigas, filhas, primas e afins de como se proteger

4338.575
mulheresimigrantes
como não se colocar em certas situações do que a conversa com os homens de não sejam assim. Então, para os poucos homens que escutam esse podcast, porque a estatística que a gente tem um pouco e é coisa assim de 90 e poucos por cento mulheres

4359.872
mulheresimigrantes
não sei, poucos porcentos não binários, e aí tem tipo, sei lá, dois, três porcentos de homens que escutam. Gente, não sejam assim. E aí no seu caso, Tânia, não sei se tem também o adicional insalubre de talvez ter a fetichização

4387.568
mulheresimigrantes
do seu corpo indígena por ser uma mulher extremamente diferente do que são as mulheres no Brasil. E aí já ter homem que entrar naquela lista, tipo, nossa, como seria estar com uma mulher assim? Então, em países europeus tem muito essa coisa de, tipo, da mulher asiática, porque ela é XYZ, o corpo dela XYZ.

4415.896
mulheresimigrantes
quero ticar nessa caixinha aí na minha lista de estive com uma mulher assim. Você acha que na sua vida, entre aspas, amorosa, sexual, de alguma forma você já esteve em alguma posição de se sentir fetichizada dessa forma?

4438.763
Tania Sayri
Então, eu já tive alguns relacionamentos. Eu, inclusive, estou num relacionamento. E os relacionamentos que eu tive foram muito... Acho que não teve muito só a questão da afetização. Eu namorei pessoas indígenas também. Tem uma vez que eu namorei uma pessoa branca, mas eu não me senti nesse lugar. Também era adolescente.

4465.401
Tania Sayri
Entendi muito sobre essas questões, talvez tenha estado, mas não identifiquei. E aí, eu lembro que quando eu era adolescente, e também, às vezes acontece, quando eu estava solteira, as pessoas achavam que, como eu falei, por conta do estereótipo, do, sei lá, do olho puxado, achava que era, tipo, amarela. E aí, tipo, ficava... Tinha o tratamento, algumas pessoas, aconteceu algumas situações dizendo, tipo,

4494.633
Tania Sayri
achava que eu era amarela, falava, você não sei o que e tal, você falava, não, eu sou boliviana. Aí já vinha todo o estereótipo do boliviano e o tratamento já era diferente. Era uma coisa que eu ficava, nossa, sabe o que mudou.

4511.561
Tania Sayri
E aí isso acontecia e eu lembro que também às vezes eu usava os aplicativos Tinder para me encontrar com pessoas e as pessoas tinham essa sensação também de

4525.862
Tania Sayri
E eu falava, tipo, não sou amarela, sou indígena. E aí, tipo, tinha coisa assim, ai, começava a falar muito abertamente assim, tipo, dessa fetização, assim, sabe? E a pessoa, tipo, o homem, acho que não via que era um problema, sabe? E aí eu já ficava, tipo, ah não, essa pessoa nem, não vou nem encontrar, assim. Acabou o papo aqui, né? E aí, às vezes também acontecia de, sei lá, estar numa festa, assim, né?

4551.442
Tania Sayri
Eu acho que quando eu comecei também a me entender enquanto imigrante, indígena, eu comecei a tomar um pouco de cuidado comigo mesma. Inclusive, tinha muita desconfiança quando eu fazia amizade também com pessoas brancas. Principalmente acho que na universidade, tem muita gente que está nesse lugar de querer ser desconstruída, de uma coisa da idade, que eu vi.

4577.244
Tania Sayri
E aí eu sempre tinha um pezinho atrás, assim, antes de, tipo, tá ali, né, realmente fazendo uma amizade, assim, porque eu tinha passado por uma situação que eu tinha sido meio que, acho que objetificada, assim, sabe, aí eu peguei mesmo trauma e aí eu me cuidava, assim, bastante, assim, né.

4594.428
Tania Sayri
em relação a amizades. E aí, consequentemente, em relação a pessoas que eu ia ficar ou que ia sair. Então, eu já ficava com um olhar, tipo, de estar me policiando, policiando o que está acontecendo. E a gente conversava, falava assim, o que você acha sobre isso? E já dava pra perceber, identificar que a pessoa estava, sei lá, objetificando.

4616.613
Tania Sayri
tem fetiche, ou é meio que problemático aquilo, assim, e já meio que eu ficava, ah, é melhor ir. Talvez não, assim. E aí, acho que sempre tentei ter esse cuidado, assim, mas às vezes eu, de repente, me vi numa situação também de, né, de estar sendo justificada, assim, de acontecer, assim. Mas hoje em dia, acho que quando começou a ficar mais forte essa

4644.701
Tania Sayri
também essa autoestima enquanto uma mulher indígena, se entender, né? Tipo, eu comecei a ter mais cuidado comigo, assim, com o meu corpo, então a ser mais seletiva, assim, pra estar saindo com as pessoas e pra estar me cuidando também, né? Acho que é um pouquinho disso, assim.

4666.971
mulheresimigrantes
E aí, já caminhando aqui pro final, mas eu tenho uma última pergunta que é sobre esse coletivo que você tinha mencionado e talvez foi ali em off antes da gente começar a gravar, das tiolitas que você faz parte e que tem esse movimento forte aí em São Paulo. Como que isso acontece? Como vocês

4691.305
mulheresimigrantes
se agrupam como o calendário de eventos e a existência desse grupo também em São Paulo.

4705.196
Tania Sayri
Então, o coletivo das Teoria da Babilônia, acho que surge por uma necessidade de ter um espaço para estar discutindo essas questões de identidade, de ancestralidade, também de estar se aproximando da espiritualidade andina, dessa reconstrução, dessa retomada que estava falando.

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Tania Sayri
E aí, as pessoas que se formam no primeiro momento estão nesse processo. A gente está procurando esse lugar, a gente se encontra. A gente começa a compartilhar vivências. E as pessoas que estão ali conversando, a gente se conhece e a gente trabalha com arte. Tem pessoas do audiovisual, das artes visuais, da música, da moda.

4760.055
Tania Sayri
Agora, recentemente, tem pessoas que às vezes não têm nenhuma experiência com a parte da arte, mas que ali também vão estar num espaço para desenvolver um lado artístico, ou estar somando de alguma forma com o coletivo.

4774.066
Tania Sayri
E a gente se encontra nesse lugar de querer ter esse espaço para discutir, porque tem muitos espaços que vai, por exemplo, discutir sobre a questão da imigração, das mulheres imigrantes, mas não tem esse recorte das nossas pautas específicas, que é enquanto mulheres indígenas originárias. Tipo, quais são as nossas pautas? O que a gente quer levar, então, também

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Tania Sayri
reivindicação política, para a gente ter uma qualidade de vida melhor na cidade de São Paulo. Porque a gente entende também que talvez a gente não vai voltar para Bolívia, sabe? Que talvez nos territórios, talvez seja aqui, sabe? A gente também não tem certeza, talvez a gente mude para outro lugar, não sei. Mas enquanto a gente estiver aqui, esse sentimento está forte e a gente está lutando por isso, nessa construção.

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Tania Sayri
E aí também, que é uma coisa não só para a gente, eu acho, que é uma coisa para a comunidade mesmo, para os que estão vindo. E também, eu acho que é uma luta que não começa só com a gente, acho que é importante falar que é uma luta também dos nossos antepassados, que eles lutaram por essa, pela nossa assistência mesmo, da resistência indígena, da história da própria Bolívia, de como que houve essa resistência, dessa formação dessas

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Tania Sayri
estratégia de se organizar politicamente, então a gente também parte por aí, assim, né, das nossas mães, dos nossos familiares, né, tipo, porque também eu sinto que esse lugar, assim, dessa busca que eu tenho, assim, que fala que eu me comprometo, assim, o que é ser indígena, né, que não é uma questão de ativismo, mas sim, tipo, nesse modo de existir, né, de estar se responsabilizando nesse sentido.

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Tania Sayri
Eu acho que vem muito também do conhecimento que elas me passaram, minha mãe, minha família. Então foi uma coisa que eu pude por conta delas. A minha amiga Fernanda, inclusive do coletivo das Chulitas, fala que a gente está vivendo pelo sonho ou pelo sonho dos nossos mais ou por aquilo que elas não conseguiram vivenciar. Então se eu tenho consciência de que é ser indígena,

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Tania Sayri
Que discriminação eu sofri, não sei o que é e tudo mais. Se consigo identificar, consigo falar. Foi porque teve todo esse apoio forte também por parte delas, por parte da minha família. Não que é minha mãe. Acho que não que pessoas também que não tenham nenhuma formação ou não saiam de isso. Às vezes a gente sabe, mas a gente não consegue identificar o que está acontecendo. Palavra dentro, sei lá, palavra certa. Eu sofria xenofobismo, racismo.

4939.514
Tania Sayri
essas coisas tipo e antes eu não conseguia falar que era isso porque não sabia essa palavra pra dizer tipo eu tô sofrendo isso assim sabe então a importância também de de conseguir verbalizar né acho que pra conseguir discutir pra conseguir construir as coisas né pra falar tipo tem um problema que está existindo aqui e isso que está acontecendo e a partir disso como que a gente pode estar repensando essas violências como que a gente pode estar

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Tania Sayri
resolvendo, vendo um modo assim de minimizar, de se articular, de se fortalecer. Então, o Curitiba da Chorita é um lugar também de a gente trazer as discussões que a gente passou, assim, para as pessoas que estão precisando também desse espaço para estar pensando, né? Que eu acho que é isso, quando a gente compartilha essas vivências, a gente se vê na vivência da outra, sabe? Então, são coisas que a gente viveu, assim. Então, são coisas que

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Tania Sayri
São problemas assim também, que eu falo muito de problemas sociais, mas são assim, sabe, do racismo, da questão tipo da xenofobia, então quando a gente

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Tania Sayri
se junta para conversar, se identifica, se fortalece e a gente consegue pensar nessa construção de um lugar que talvez no futuro a gente não passe por isso. A gente consiga falar tipo gente está errado, estão fazendo isso aí é violento, parem com isso. Vamos agredir o outro, não é legal.

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mulheresimigrantes
Tânia, foi um prazer finalmente conseguir falar com você. Muito obrigada pela sua presença. Mas antes de terminarmos, vamos para nossa louca cultural, que é aquele momento de indicação de trabalhos feitos ou protagonizados por mulheres. Começamos por você.

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Tania Sayri
Desculpa a Bárbara, cortou aqui, não entendi.

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mulheresimigrantes
Então, indicações de trabalhos feitos ou protagonizados por mulheres. Algumas indicações que você tenha para a gente. Já começamos pelo Coletivo Artístico Político das Tioelitas da Babilônia, onde encontramos, qual é o

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Tania Sayri
Ah... Ah, entendi agora. Tá. Tem o coletivo da Teolita Babilônia, né? Arroba Teolitas da Babilônia, underline. Eu acho que também tem... Pensando assim nessas pautas que eu tava falando, né? Desrecorte assim. Tem a... Tem a...

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Tania Sayri
Ah, esqueci o nome agora. Ai, meu Deus. Tem o Esperrisno também, que é uma artista que trabalha com colagens. Tem a Carolina Velásquez, que é uma artista que nasceu aqui no Brasil, mas ela traz a retomada também da ancestralidade, traz sobre essa parte da espiritualidade indiana, muito presente no trabalho dela, uma artista plástica, artista visual muito importante.

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Tania Sayri
Tem também essa moça que eu esqueci o nome, que faz vários conteúdos para a Jadex, que ela traz vários conteúdos sobre a comunidade boliviana também, ela é muito presente nos eventos, acho legal acompanhar.

5158.626
Tania Sayri
Também tem as meninas do coletivo das Choritas, né? A Nátaly, vou falar os nomes Nátaly, a Fernanda, a Gabi, tem agora recentemente a Kate, a Mingren, que eu acho legal também seguirem. E aí seria mais sobre essas pessoas assim, da cidade de São Paulo, outras mulheres assim, pode ser qualquer.

5184.292
mulheresimigrantes
Qualquer lugar, qualquer coisa, música, filme, o que você quiser.

5188.592
Tania Sayri
Eu gosto muito assim da Nat Jux, que é uma artista chilena, que ela é uma cantora, que ela fala também dos povos originários, a Brisa Flow, tem a Catu Mirim também, tem o Canto Pac, que é um grupo de... São dois rappers, um casal, que é o Brian e a Blian, que a partir disso eles têm uma

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Tania Sayri
uma marca de roupas que trazem tecido andino nas roupas, num estilo mais hip-hop, assim, de rua, muito legal, recomendo bastante também. Tenha... Tenha... Eu acho que é isso, assim, que eu lembro agora. Sim.

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mulheresimigrantes
Nossa, já veio com uma lista que depois, quando a gente acabar a gravação, vou ter que ficar aqui com a Tânia e pegar tudo certinho, porque não deu nem tempo para eu escrever tudo.

5244.863
Tania Sayri
Sim. Tem só mais uma que eu tenho que te falar, que eu inclusive falei na entrevista, que são a equipe de base de conversas das culturas, equipe de base Iuarmes de conversas das culturas, que são de mulheres imigrantes, e acho muito legal acompanhar porque elas sempre estão ali também trazendo várias discussões, assim, né, e são mulheres incríveis, assim, todas, gosto muito. E é isso.

5274.861
mulheresimigrantes
Eu, gente, ao contrário, tenho apenas duas indicações. Uma... Na verdade, vou até mudar a ordem aqui que eu vou falar. A primeira é a Aline Rocher do Pacha Mama, que é uma escritora e ilustradora. Ela também tem uma... Como é o nome? Que publica livros, gente do céu!

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mulheresimigrantes
Editora! Nossa senhora, coitada aqui de mim. Tem umas ilustrações muito bonitas, gente. Vai lá acompanhar o trabalho dela no arroba Aline Rocher do Pachamama. E já que a gente falou de terapia... Bom, gente, eu sempre acabo de alguma maneira falando em terapia em qualquer um desses episódios, né? E tem...

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mulheresimigrantes
uma psicóloga, a Jaqueline Nascimento, que ela tem um podcast bem recente que chama Pretas Podem.

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mulheresimigrantes
Então, vem bem desse lugar de uma mulher negra. Ela mora em alguma cidade de Minas Gerais, que eu não me lembro o nome agora. Mas tem bastante coisa também só falando sobre a parte que ela vê um pouco na clínica dela, das pacientes. Ela é especializada

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mulheresimigrantes
Talvez não seja essa a palavra, mas ela foca mais também nas pacientes imigrantes. Então, por mais que ela não seja uma mulher imigrante, esse é um assunto que a interessa muito. Muitas mulheres que passam pela clínica dela são mulheres imigrantes, então fica aí a indicação dois em um, que é o podcast dela, Pretas Podem. Vocês podem encontrar no Spotify, vou deixar o link aqui também. E aí tem o Instagram dela, que é jaqueline nascimentopsi.

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mulheresimigrantes
E é isso que temos agora. Mais uma!

5392.278
Tania Sayri
Eu queria trazer um relato, inclusive. Não, é sobre a questão da terapia mesmo. Eu faço terapia com uma moça que é uma imigrante também, mas ela está bem atenta nessas pautas. É muito bom, sabe, de estar fazendo terapia com ela. Recomendo.

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Tania Sayri
Não precisa ser uma pessoa imigrante, não precisa ser uma pessoa indígena ou negra, mas se a pessoa tiver atenta nas coisas, já é uma grande escuta, uma grande conversa, uma grande troca.

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mulheresimigrantes
E, gente, para quem não sabe, eu tive até que pesquisar um pouquinho antes de começar a conversar aqui com a Tânia. A gente está se falando desde setembro para gravar. Nesse exato momento, é dia 10 de fevereiro que gravamos. No dia 15 de setembro, na verdade ainda era 14 no Brasil,

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mulheresimigrantes
Foi quando a Tânia conseguiu marcar o horário na nossa agenda para dali um mês. Então, no meio de outubro, antes de eu ir viajar, que a gente ia gravar, eu não sei quantas vezes ambas precisaram cancelar por algum motivo.

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mulheresimigrantes
e acontecer a gravação dia 24 de janeiro e eu só sei a data porque foi aquela data fatídica que o Alaska fez o favor de acabar com o meu dia e me mandar para o hospital por um dia inteiro. Remarcamos para dali duas semanas exatas.

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mulheresimigrantes
quando foi que aconteceu, aí Tânia passou mal, também teve que ir pro hospital. Então, já é um episódio, gente, que tá, não sei quantas vezes, não é tipo, nem melhor de três, gente, sei lá, quantas vezes a gente tentou regravar, mas que bom que finalmente deu certo, quando deu. Eu tô extremamente feliz em ter te conhecido, espero que quando eu estiver aí, na próxima vez, a gente consiga marcar um encontro de mulheres imigrantes, de todas as

5514.411
Tania Sayri
O que está acontecendo?

5522.974
mulheresimigrantes
ouvintes que residem ou possam ir para São Paulo, que a gente se encontre, mas, Ametânia, um grande agradecimento para você.

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Tania Sayri
Com certeza, esse encontro vai ser incrível, maravilhoso, assim, de a gente ter esse espacinho pra estar trocando também, né, isso é muito importante. Eu que agradeço pelo convite, Bárbara, e pela persistência também desse encontro, se finalmente esse encontro aconteceu. Era pra ser hoje, com certeza, e muito obrigada pelo convite, mais uma vez.

5556.596
Tania Sayri
Estou muito feliz de estar participando nesse podcast de vocês, de você e desse episódio também. Muito obrigada. Ainda mais no Dia das Mulheres, que você falou, então fiquei muito feliz, muito... Como que fala? Lição geada isso, lição geada.

5576.664
mulheresimigrantes
E gente, eu sempre esqueço, ai, Fabiana sempre me mata com isso. Tania, onde te achamos? Qual é o seu arroba? Vende sua arte, das nossas ouvintes.

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Tania Sayri
Claro, vocês podem me seguir no arroba Tânia Sairi, Sairi com S-A-Y-R-I, Sairi. E aí eu sempre tô trazendo assim, quando for fazer uma apresentação, uma exposição, sempre divulgo por lá, né? Qualquer coisa também, tipo, tem trabalho disponível lá, vocês entram em contato comigo.

5618.046
Tania Sayri
E também faço encomendas, frissar, então é isso, só tipo a gente conversando e a gente vai fazendo as coisas, né? Preciso fazer trabalho conjunto, também estou aberta, assim. E é isso, muito obrigada, Bárbara, e obrigada pela nossa conversa, né? Muito obrigada.

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mulheresimigrantes
É um prazer. Gente, vão lá também nos seguir no @mulheresimigrantespod em todas as plataformas que vocês quiserem aí. Feliz dia das mulheres. Pelo menos por um dia, vamos tentar respirar e comemorar. E a gente se vê no próximo episódio.